A-02. O Caminho e a Vida
O CAMINHO E A VIDA
Extratos do Trabalho de
Samael Aun Weor
As pessoas trabalham diariamente, lutam para sobreviver, querem existir de alguma maneira, mas não são felizes.
Essa felicidade está em chinês (ou seja, é algo difícil de entender), como se diz por aí. O mais grave é que as pessoas sabem disso, mas em meio a tantas amarguras parece que não perdem as esperanças de algum dia conseguirem a felicidade, mesmo sem saber como, nem de que maneira.
Pobres pessoas! Quanto sofrem! E, no entanto, querem viver, temem perder a vida.
Se as pessoas entendessem alguma coisa sobre Psicologia Revolucionária, possivelmente até pensariam diferente; mas na verdade nada sabem, querem sobreviver em meio à sua desgraça e isso é tudo.
Existem momentos prazerosos e muito agradáveis, mas isso não é felicidade; as pessoas confundem o prazer com a felicidade.
“Festas”, “farras”, bebedeiras, orgia; são prazeres bestiais, mas não felicidade… No entanto, há pequenas festas sãs sem bebedeiras, sem bestialidades, sem álcool, etc., mas isso tampouco é felicidade…
É uma pessoa amável? Como se sente quando dança? Está apaixonado? Ama de verdade? Como se sente dançando com o ser que adora? Permita que eu me torne um pouco cruel nestes momentos ao dizer-lhe que isso tampouco é felicidade.
Se já está velho, se esses prazeres não te atrai, se parecem desagradáveis; desculpe-me se te digo que seria diferente se estivesse jovem e cheio de ilusões.
De qualquer forma, diga o que diga, dance ou não dance, apaixone-se ou não se apaixone, tenha ou não isso que se chama dinheiro, você não é feliz, muito embora pense o contrário.
Passa-se a vida buscando a felicidade por todas as partes e morre sem tê-la encontrado.
Na América Latina são muitos os que têm a esperança de ganhar algum dia o grande prêmio da loteria; acreditam que assim vão conseguir a felicidade; alguns até o ganham de verdade, mas nem por isso conseguem a tão ansiada felicidade.
Quando se é jovem, sonha-se com a mulher ideal, alguma princesa das “Mil e Uma Noites”, algo extraordinário; depois vem a crua realidade dos fatos: esposa, crianças pequenas para manter, difíceis problemas econômicos, etc.
Não há dúvida de que à medida que os filhos crescem os problemas também crescem e até tornam-se impossíveis…
Conforme o menino e a menina vão crescendo os sapatinhos vão sendo cada vez maiores e o preço maior, isso é claro.
Conforme as criaturas crescem, a roupa vai custando cada vez mais e mais; havendo dinheiro não há problema nisso, mas se não há, a coisa é grave e sofre-se horrivelmente…
Tudo isto seria mais ou menos suportável se tivesse uma boa mulher, mas quando o pobre homem é traído, quando lhe colocam chifres, de que lhe serve, então, lutar por aí para conseguir dinheiro?
Infelizmente existem casos extraordinários, mulheres maravilhosas, companheiras de verdade tanto na abundância como na desgraça, mas para o cúmulo dos cúmulos o homem então não sabe apreciá-la e até a abandona por outras mulheres que vão lhe amargar a vida.
Muitas são as donzelas que sonham com um “príncipe encantado”; infelizmente e de verdade, as coisas são muito diferentes e no terreno dos fatos a pobre mulher se casa com um carrasco…
A maior ilusão de uma mulher é chegar a ter um belo lar e ser mãe; “santa predestinação”, mas embora o homem seja muito bom, coisa que por certo é muito difícil, no fim tudo passa: os filhos e as filhas se casam, se vão ou são ingratos com seus pais, e o lar termina definitivamente.
Resumindo, neste mundo cruel em que vivemos não existe gente feliz… Todos os pobres seres humanos são infelizes.
Na vida conhecemos muitos burros carregados de dinheiro, cheios de problemas, processos de toda espécie, sobrecarregados de impostos, etc. Não são felizes.
De que serve ser rico se não se tem boa saúde? Pobres ricos! Às vezes são mais desgraçados que qualquer mendigo.
Tudo passa nesta vida: passam as coisas, as pessoas, as ideias, etc. Os que têm dinheiro passam e os que não o têm também passam, e ninguém conhece a autêntica felicidade.
Muitos querem fugir de si mesmos por meio das drogas ou do álcool, mas na verdade não somente não conseguem tal fuga, mas o que é pior, ficam presos no inferno do vício.
Os amigos do álcool ou da maconha, ou do LSD, etc., desaparecem como que por encanto quando o viciado resolve mudar de vida.
Fugindo do “Mim Mesmo”, do “Eu Mesmo”, não se consegue a felicidade. Interessante seria “agarrar o touro pelos chifres”, observar o “EU”, estudá-lo com o propósito de descobrir as causas da dor.
Quando alguém descobre as verdadeiras causas de tantas misérias e amarguras, é obvio que pode fazer alguma coisa a respeito…
Acabando com o “Mim Mesmo”, com as “Minhas Bebedeiras”, com os “Meus Vícios”, com os “Meus Afetos”, que tanta dor no coração me causam, com as minhas preocupações que destroçam os meus miolos e me causam enfermidades etc., etc., então é claro que advém isso que não é do tempo, isso que está mais além do corpo, dos afetos e da mente, isso que realmente é desconhecido para o entendimento e que se chama: FELICIDADE!
Inquestionavelmente, enquanto a consciência continue engarrafada, embutida no “MIM MESMO”, entre o “EU MESMO”, de maneira alguma poderá conhecer a legítima felicidade.
A felicidade tem um sabor que o “EU MESMO”, o “MIM MESMO”, jamais conheceu.
A Grande Rebelião
Capitulo III – A Felicidade
Não há dúvida que entre o pensar e o sentir existe uma grande diferença; isto é incontroverso.
Existe uma grande frieza entre as pessoas; é o frio do que não tem importância, do superficial.
As multidões acreditam que o mais importante é o que não é importante; supõem que a última moda, ou o carro último modelo, ou aquela questão do salário mínimo é a única coisa séria.
Consideram algo sério a crônica do dia, a aventura amorosa, a vida sedentária, a taça de licor, a corrida de cavalos, a corrida de automóveis, a corrida de touros, a fofoca, a calúnia, etc.
Obviamente, quando o homem do momento ou a mulher do salão de beleza escutam algo sobre o esoterismo, no entanto como isto não está em seus planos, nem em suas tertúlias, nem em seus prazeres sexuais, respondem qualquer coisa com uma frieza espantosa, ou simplesmente retorcem a boca, levantam os ombros, e se retiram com indiferença.
Essa apatia psicológica, essa frieza que espanta tem duas bases; a primeira é a ignorância mais tremenda, e a segunda é a ausência mais absoluta de inquietações espirituais.
Falta um contato, um choque elétrico; ninguém o deu na loja, tampouco entre o que se acreditava ser sério, nem muito menos nos prazeres da cama.
Se alguém fosse capaz de dar ao frio tolo ou à superficial mulherzinha o choque elétrico do momento, a faísca do coração, alguma reminiscência estranha, algo indefinível e muito íntimo, talvez então tudo seria diferente.
Mas algo substitui a vozinha secreta, a primeira palpitação, o anseio íntimo; possivelmente uma bobagem, o belo chapéu de alguma vitrine ou aparador, o doce saboroso de um restaurante, o encontro de um amigo que mais tarde não tem para nós nenhuma importância, etc.
Bobagens, tolices que, não sendo transcendentais, possuem força suficiente em um dado instante para apagar a primeira inquietude espiritual, o anelo íntimo, a insignificante faísca de luz, o pressentimento que de maneira misteriosa nos inquietou por um momento.
Se esses que hoje são cadáveres viventes, frios sonâmbulos do clube ou simplesmente vendedores de guarda-chuvas na loja da rua Real (rua no México) não tivessem sufocado a primeira inquietação íntima, seriam neste momento luminárias do espírito, adeptos da luz, homens autênticos no sentido mais completo da palavra.
A faísca, o pressentimento, um suspiro misterioso, algo foi sentido alguma vez pelo açougueiro da esquina, pelo engraxador de sapatos ou pelo doutor de primeira magnitude, mas tudo foi em vão; as necessidades da personalidade sempre apagam a primeira faísca de luz; depois prossegue o frio da mais espantosa indiferença.
Inquestionavelmente a lua traga as pessoas mais cedo ou mais tarde; esta verdade é incontroversa.
Não há ninguém que na vida não tenha sentido alguma vez um pressentimento, uma estranha inquietude; desgraçadamente qualquer coisa da personalidade, por mais boba que esta seja, é suficiente para reduzir à poeira cósmica isso que no silêncio da noite nos comoveu por um momento.
A lua ganha sempre estas batalhas, ela se alimenta, nutre-se precisamente com as nossas próprias debilidades.
A lua é terrivelmente mecanicista; o humanoide lunar, desprovido por completo de toda inquietude solar, é incoerente e se move no mundo de seus sonhos.
Se alguém fizesse o que ninguém faz, isto é, avivar a íntima inquietude surgida talvez no mistério de alguma noite, não há dúvida de que em última análise assimilaria a inteligência solar e se converteria por tal motivo em Homem Solar.
Isso é, precisamente, o que o Sol quer, mas a Lua sempre traga estas sombras lunares tão frias, apáticas e indiferentes; depois vem a igualação da morte.
A morte iguala tudo. Qualquer cadáver vivo desprovido de inquietudes solares, degenera terrivelmente de forma progressiva até que a Lua o devora.
O Sol quer criar homens, está fazendo esse ensaio no laboratório da natureza; infelizmente, tal experiência não lhe deu muitos bons resultados; a Lua engole as pessoas.
No entanto, isto que estamos dizendo não interessa a ninguém, muito menos aos ignorantes ilustrados; eles se sentem muito superiores a todos os demais.
O Sol depositou nas glândulas sexuais do animal intelectual equivocadamente chamado homem certos gérmens solares que, convenientemente desenvolvidos, poderiam nos transformar em Homens Autênticos.
Contudo, a experiência solar resulta espantosamente difícil devido precisamente ao frio lunar.
As pessoas não querem cooperar com o Sol e por este motivo, em última análise, os gérmens solares involuem, degeneram e se perdem lamentavelmente.
A clavícula mestra da obra do Sol está na dissolução dos elementos indesejáveis que levamos em nosso interior.
Quando uma raça humana perde todo interesse pelas ideias solares, o sol a destrói porque já não serve mais para o seu experimento.
Como esta raça atual se tornou insuportavelmente lunar, terrivelmente superficial e mecanicista, já não serve para o experimento solar, motivo mais que suficiente pelo qual será destruída.
Para que exista inquietude espiritual contínua é necessário passar o centro magnético de gravidade para a essência, para a consciência.
Infelizmente as pessoas têm o centro de gravidade magnético na personalidade, no café, na cantina, nos negócios do banco, na casa de encontros ou na praça do mercado, etc.
Obviamente, todas estas são as coisas da personalidade e o centro magnético dela atrai a todas estas coisas; isto é incontroverso e qualquer pessoa que tenha um sentido comum pode verificar por si mesma e de forma direta.
Desgraçadamente, ao ler tudo isto, os preguiçosos do intelecto, acostumados a discutir muito ou a calar com um orgulho insuportável, preferem atirar o livro com desdém e ler o jornal.
Alguns goles de um bom café e a crônica do dia resultam magnífico alimento para os mamíferos racionais.
No entanto, eles se sentem muito sérios; inquestionavelmente seus próprios pedantismos os mantêm alucinados, e estas coisas do tipo solar escritas neste livro insolente lhes perturbam muito. Não há dúvida que os olhos boêmios dos homúnculos da razão não se atreveriam a continuar com o estudo desta obra.
A Grande Rebelião
Capitulo XX – Inquietudes
Qual é o objetivo real de nossa existência? Para que estamos aqui? Por quê? Isso é algo que devemos elucidar com claridade meridiana, algo que devemos sopesar, analisar, examinar serenamente.
Com que objetivo vivemos no mundo? Sofremos o indizível, para que? Lutamos para conseguir isso que se chama “pão, roupa e refúgio” e, depois de tudo, como ficamos? Em que resultam todos os nossos esforços? Viver por viver, trabalhar para viver e depois morrer é por acaso uma coisa maravilhosa? Em verdade, amigos, se faz necessário compreender o sentido de nossa existência, o sentido do viver.
Existem duas linhas na vida, uma que poderíamos chamar de HORIZONTAL e a outra de VERTICAL; e formam cruz dentro de nós mesmos, aqui e agora, nem um segundo antes, nem um segundo depois. Necessitamos objetivar um pouco essas duas linhas.
A HORIZONTAL começa com o nascimento e termina com a morte; diante de cada berço existe a perspectiva de um sepulcro; tudo o que nasce deve morrer… Na Horizontal estão todos os processos do nascer, crescer, reproduzir-se, envelhecer e depois morrer; na horizontal estão todos os vãos prazeres da vida, bebidas, fornicações, adultérios, etc.; na horizontal está a luta pelo pão de cada dia, a luta para não morrer, para existir sob a luz do Sol; na horizontal estão todos esses sofrimentos íntimos da vida prática, no lar, na rua, no trabalho, etc.; a linha horizontal não pode oferecer-nos nada de maravilhoso…
Mas existe outra linha diferente; nos referimos à VERTICAL. Nesta Vertical extraordinária, nesta escada maravilhosa, estão os distintos NÍVEIS DO SER, estão os poderes transcendentais e transcendentes do ÍNTIMO; na Vertical estão os poderes esotéricos, os poderes que divinizam, a Revolução da Consciência, etc.
Com as forças da Vertical nós podemos influenciar decisivamente sobre os aspectos horizontais da vida prática, podemos mudar totalmente nosso próprio destino, fazer de nossa vida uma coisa diferente, distinta, passar a ser algo totalmente diferente do que temos sido, do que somos, do que temos conhecido nesta amarga existência.
A Vertical é, portanto, maravilhosa, revolucionária por natureza; mas é necessário ter um pouquinho de inquietudes.
Antes de mais nada perguntamo-nos, e com isso perguntamos a nosso caro leitor: estamos por acaso contentes com o que somos? Quem se sente feliz, no sentido mais completo da palavra? Quem se sente, realmente, plenamente feliz?
Devemos ser sinceros, nenhum de nós pode dizer que se sente em um oásis de bem-aventurança, temos inquietudes terríveis, dissabores, ansiedades, amarguras, sofremos muito e nosso coração palpita com uma intensidade tremenda…
Necessitamos sair desta lama em que nos encontramos. Necessitamos, de verdade, mudar radicalmente; e isto só será possível se apelarmos aos poderes transcendentais da Vertical.
Quando alguém, que anda pela Horizontal, se lembra de si mesmo, de seu próprio Ser (sua realidade íntima); quando alguém se pergunta: “Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Qual é o objetivo da existência?” … indubitavelmente esse alguém entra pela senda Vertical, a senda da Revolução da Consciência, a senda que conduz ao Super-Homem.
Chegou a hora do Super-Homem; o animal intelectual realmente não é mais que uma ponte estendida entre o animal inferior e o Super-Homem. Necessitamos converter-nos em verdadeiros reis da criação, em amos de nós mesmos, em senhores de tudo o que é, de tudo o que foi e de tudo o que será…
É urgente uma mudança, uma transformação total; urge sair o quanto antes desse lamaçal, deste caos em que nos encontramos e no qual nos debatemos miseravelmente.
As leis da Terra jamais poderiam dar-nos a paz; as leis da Terra nunca poderiam dar-nos a autêntica felicidade que transforma radicalmente; as leis da Terra nunca poderiam dar-nos a liberdade.
Assim, é urgente meter-nos pelo CAMINHO VERTICAL, que está dentro de nós mesmos, aqui e agora; chegou a hora da GRANDE REVOLUÇÃO, da REVOLUÇÃO PSICOLÓGICA, da Revolução em marcha, da Revolução que há de conduzir-nos ao Super-Homem…
Amigos, reflitamos sobre o Super-Homem… É extraordinário entrar pela SENDA VERTICAL revolucionária, que há de conduzir-nos inevitavelmente à liberação final.
Quem é feliz hoje em dia? Não o somos, e não o seremos nunca se não nos dedicarmos a percorrer com firmeza a SENDA VERTICAL; não seremos felizes enquanto não cheguemos à altura do Super-Homem; não seremos felizes enquanto não liberemos a Consciência do lodo doloroso deste mundo; não seremos felizes enquanto não experimentemos ISSO que é o REAL, ISSO que não é do tempo, ISSO que é a VERDADE…
Na SENDA VERTICAL está a Revolução da Consciência. Quando alguém admite que tem uma psicologia própria, indubitavelmente começa a trabalhar sobre si mesmo; então, é óbvio que entra pela SENDA VERTICAL…
Extrato da Conferência
A Verticalidade da Existência
Como os estudos gnósticos têm progredido extraordinariamente nesses últimos tempos, nenhuma pessoa culta cairia hoje, como outrora, no erro simplista de fazer surgir as correntes gnósticas de alguma latitude espiritual exclusiva.
Se é certo que devemos ter em conta, em qualquer sistema gnóstico, seus elementos helenísticos orientais, incluindo Pérsia, Mesopotâmia, Síria, Índia, Palestina, Egito, etc.; nunca deveríamos ignorar os princípios gnósticos perceptíveis nos sublimes cultos religiosos dos Nahuas, Toltecas, Astecas, Zapotecas, Maias, Chibchas, Incas, Quechuas, da Indo-América.
Falando francamente e sem rodeios, diremos: “A Gnose é uma atividade muito natural da consciência, uma philosophia perennis et universalis”.
Inquestionavelmente, Gnose é o conhecimento iluminado dos mistérios divinos, reservados a uma elite.
A palavra Gnosticismo encerra dentro de sua estrutura gramatical a ideia de sistemas ou correntes dedicadas ao estudo da Gnose.
Este Gnosticismo implica em uma série coerente, clara, precisa, de elementos fundamentais, verificáveis mediante a experiência mística direta. A Maldição, desde um ponto de vista científico e filosófico. O Adão e Eva do Gênesis Hebraico. O Pecado Original e a saída do Paraíso. O Mistério de Lúcifer-Nahuatl. A Morte do “Mim Mesmo. Os Poderes Criadores. A Essência do Salvator Salvandus. Os Mistérios Sexuais. O Cristo Íntimo. A Serpente Ígnea de nossos Mágicos Poderes. A Descida aos Infernos. O Regresso ao Éden. O Dom de Mefistófeles.
Somente as doutrinas gnósticas que envolvem os fundamentos ontológicos, teológicos e antropológicos anteriormente citados fazem parte do gnosticismo autêntico.
Não é demais, neste tratado, esclarecer de forma enfática que o Gnosticismo é um processo religioso muito íntimo, natural e profundo.
Esoterismo autêntico profundo, desenvolvendo-se de instante em instante, com vivências místicas muito particulares e Doutrina e ritos próprios.
Doutrina extraordinária, que fundamentalmente adota a forma mítica e, às vezes, mitológica. Liturgia mágica e inefável, com viva ilustração para a Consciência Superlativa do Ser.
Inquestionavelmente, o conhecimento gnóstico sempre escapa às análises normais do raciocínio subjetivo.
O correlato deste conhecimento é a intimidade infinita da pessoa, o Ser.
A razão de Ser do Ser é o próprio Ser. Somente o Ser pode conhecer-se a si mesmo. O Ser, portanto, se autoconhece na Gnose.
O Ser, revalorizando-se e conhecendo-se a si mesmo é a Auto-Gnose; indubitavelmente esta última é, em si mesma, a Gnose.
O AUTO-CONHECIMENTO do Ser é um movimento suprarracional que depende dele, que nada tem a ver com o intelectualismo.
O abismo que existe entre o Ser e o Eu é intransitável e por isto o Neuma, o Espírito, se reconhece e este reconhecimento é um ato autônomo para o qual a razão subjetiva do “mamífero intelectual” é ineficaz, insuficiente, terrivelmente pobre.
Autoconhecimento, autognosis, implica na aniquilação do Eu, como trabalho prévio, urgente, inadiável.
O Eu, o Ego, é constituído por somas e subtrações de elementos subjetivos, infra-humanos, animais, que, indubitavelmente, têm um princípio e um fim.
A Essência, a Consciência, embutida, engarrafada dentro dos diversos elementos que constituem o Mim Mesmo, o Ego, infelizmente se manifesta dolorosamente, em virtude de seu próprio condicionamento.
Dissolvendo o Eu, a Essência, a Consciência, desperta, ilumina-se, liberta-se, advindo então como corolário, o autoconhecimento ou a auto-gnose.
A revelação legítima tem seu fundamento irrefutável na auto-gnose.
A revelação gnóstica é sempre imediata, direta, intuitiva, exclui radicalmente as operações intelectuais subjetivas. Nada tem a ver com a experiência e aglomeração de dados fundamentalmente sensoriais.
A inteligência, ou “Nous”, em seu sentido gnosiológico, embora possa servir de embasamento à intelecção iluminada, nega-se rotundamente a cair no vão intelectualismo.
São evidentes e manifestas as características ontológicas, pneumáticas ou espirituais de Nous (Inteligência).
Em nome da Verdade, declaro solenemente que o Ser é a única Existência Real, ante cuja a transparência inefável e terrivelmente divina isso que chamamos Eu, Ego, Mim Mesmo, Si Mesmo, são meramente trevas exteriores, pranto e ranger de dentes.
A auto-gnose, ou reconhecimento auto-gnóstico do “Ser”, dada a vertente antropológica do Neuma ou espírito, é algo decididamente salvador.
Conhecer-se a si mesmo é ter alcançado a identificação com seu próprio Ser divinal.
Saber-se idêntico com seu próprio Neuma ou Espírito, experimentar diretamente a identificação entre o conhecido e o cognoscente é isso que podemos e devemos definir como auto-gnose.
Evidentemente, essa revelação extraordinária nos convida a morrer em nós mesmos, a fim de que o Ser se manifeste em nós.
Pelo contrário, continuar como Ego dentro da heresia da separatividade, afastar-se do Ser, significa condenar-se à involução submersa nos “mundos infernos”.
Essa reflexão evidente nos conduz ao tema da “Livre Escolha” Gnóstica. O gnóstico sério é um escolhido a posteriori.
A experiência gnóstica permite ao sincero devoto conhecer-se e autorrealizar-se completamente.
Entenda-se por autorrealização o harmonioso desenvolvimento de todas as infinitas possibilidades humanas.
Não se trata, em absoluto, de dados intelectuais caprichosamente repartidos, nem mera conversa ambígua e sem conteúdo.
Tudo o que nestes parágrafos estamos dizendo, traduza como experiência autêntica, vívida, real.
Inexiste, pois, nas correntes gnósticas, o dogma da predeterminação ortodoxa. Isto nos condicionaria, lamentavelmente, numa estreita concepção de deidade antropomórfica.
Deus em grego é Theos. Em latim, é Deus. Em sânscrito, “DIV” ou “DEVA”, palavra que se traduz como Anjo ou Anjos.
Mesmo entre os mais conservadores povos semíticos, o mais antigo Deus de luz, “EL” ou “ILU”, aparece nos primeiros capítulos do Gênesis em sua forma plural sintética de Elohim.
Deus não é nenhum indivíduo humano ou divino em particular. Deus é Deuses. Ele é o exército da voz, a grande palavra, o verbo do evangelho de São João”; o Logos criador, a unidade múltipla perfeita.
Autoconhecer e realizar-se no horizonte das infinitas possibilidades implica o ingresso ou reingresso à hoste criadora dos Elohim.
Esta é a segurança do Gnóstico. Se o Ser e os seus esplendores maravilhosos foram descobertos integramente, eles destroem radicalmente toda ilusão.
A abertura do “Neuma” ou espírito divino do homem, encerra o total conteúdo Soteriológico (salvação humana).
Se hoje possuímos a Gnose dos grandes mistérios arcaicos, é porque alguns homens muito santos, devido à sua lealdade doutrinária, conseguiram aproximar-se do dinamismo revelador do Ser.
Sem uma prévia informação sobre Antropologia Gnóstica, seria impossível o estudo rigoroso das diversas peças antropológicas das culturas Asteca, Tolteca, Maia, Egípcia, etc.
Em questões de antropologia profana, perdoem-me a comparação, se quisermos conhecer resultados, deixemos um macaco em plena liberdade dentro de um laboratório e em seguida observemos o que acontece.
Os códices mexicanos, papiros egípcios, ladrilhos assírios, pergaminhos do Mar Morto, estranhos pergaminhos, assim como certos templos antiquíssimos, sagrados monólitos, velhos hieróglifos, pirâmides, sepulcros milenares, etc., oferecem, em sua profundidade simbólica, um sentido gnóstico que definitivamente escapa à interpretação literal e que nunca teve um valor explicativo de índole exclusivamente intelectual.
O raciocínio especulativo, em vez de enriquecer a linguagem gnóstica, a empobrece lamentavelmente, já que os relatos gnósticos, escritos ou alegorizados em qualquer forma artística, orientam-se sempre para o Ser.
É nessa interessantíssima linguagem semi-filosófica e semi-mitológica da Gnose que se apresenta uma série de variantes extraordinárias, símbolos com fundo esotérico transcendental, que em seu silêncio dizem muito.
Bem sabem os divinos e os humanos que o silêncio é a eloquência da sabedoria.
As características que especificam claramente o Mito Gnóstico e que mutuamente se complementam entre si, são as seguintes:
1 – Divindade suprema.
2 – Emanação e queda PLEROMÁTICA.
3 – DEMIURGO Arquiteto.
4 – NEUMA no mundo
5 – Dualismo.
6 – Salvador.
7 – Retorno.
A divindade suprema gnóstica é caracterizada como AGNOSTOS THEOS, o espaço abstrato absoluto, o Deus ignorado ou desconhecido, a realidade una, da qual emanam os Elohim, na aurora de qualquer criação universal.
Recorde-se que “PARANISHPANA” é o Summum Bonum, o Absoluto, portanto, o mesmo que PARANIRVANA.
Mais tarde, tudo o que parece existir neste universo virá a ter existência real no estado de PARANISHPANA.
Inquestionavelmente, as faculdades da cognição humana jamais poderiam passar além do império cósmico dos Logos Macho-Fêmea, o Demiurgo criador, o Exército da Voz (o Verbo).
JAH-HOVAH, o PAI-MÃE secreto de cada um de nós, é o autêntico JEOVÁ.
Jod, como letra hebraica é o membrum virile (o princípio masculino).
Eve, Heve, Eva, o mesmo que Hebe, a Deusa grega da juventude e a noiva olímpica de Hércules, é o Yoni, o cálice divino, o Eterno Feminino.
O divino Rabi da Galileia em vez de render culto ao Jeová antropomórfico dos judeus, adorou ao seu Divino Macho-Fêmea (JAH-HOVAH), o Pai-Mãe interior.
O Bendito, crucificado no Monte das Caveiras, clamou com poderosa voz dizendo: “Meu Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Ram-Io, Isis, sua Divina Mãe Kundalini acompanhou-o na via-crúcis.
Todas as nações têm seu primeiro Deus ou Deuses como andróginos e não podia ser de outro modo, posto que consideravam a seus longínquos progenitores primitivos, seus antecessores de duplo sexo, como seres divinos e deuses santos, assim como fazem hoje os chineses.
Com efeito, a concepção artificial de um Jeová antropomórfico, exclusivista, independente da sua própria obra, sentado lá em cima num trono de tirania e despotismo, lançando raios e trovões contra este triste formigueiro humano, é o resultado da ignorância, mera idolatria intelectual.
Infelizmente, esta concepção errônea da verdade se apoderou tanto do filósofo ocidental como do religioso afiliado a qualquer seita desprovida por completo dos elementos gnósticos.
O que os Gnósticos de todos os tempos rejeitaram não é o Deus desconhecido, Uno, e sempre presente na Natureza, ou a Natureza “in abscôndito”, mas o Deus do dogma ortodoxo, a espantosa deidade vingativa da lei de talião (olho por olho e dente por dente).
O Espaço Abstrato Absoluto, o Deus Incognoscível não é nem um vazio sem limites, nem uma plenitude condicionada, mas ambas as coisas de uma só vez.
O Gnóstico esoterista aceita a revelação como procedente de Seres Divinos, as Vidas Manifestadas; porém, jamais, da Vida Una, não manifestada.
A Deidade Incognoscível é o Espaço Abstrato Absoluto, a raiz sem raiz de tudo quanto foi, é, ou será.
Esta causa infinita e eterna acha-se desprovida de toda classe de atributos. É Luz Negativa, existência negativa, está fora do alcance de todo pensamento ou especulação.
[…]
O Mundo Divino, o âmbito glorioso do Pleroma, surgiu diretamente da Luz negativa, da Existência negativa.
Finalmente, o Nous, espírito ou Neuma, contém em si mesmo infinitas possibilidades, susceptíveis de desenvolvimento durante a manifestação.
Entre os limites extraordinários do Ser e do Não Ser da Filosofia, produziu-se a multiplicidade ou queda.
O mito gnóstico da queda de “Sophia” (a divina sabedoria), alegoriza este terrível transtorno no seio do Pleroma.
O desejo, a fornicação, o querer sobressair como Ego, origina o descalabro e a desordem, produz uma obra adulterada que, inquestionavelmente, fica fora do âmbito divinal, mesmo que nela permaneça aprisionada a Essência, o BUDDHATA, o material psíquico da criatura humana.
O impulso para a Unidade da Vida livre em seu movimento pode desviar-se para o Eu, e na separação forjar todo um mundo de amarguras.
A queda do homem degenerado é o fundamento da Teologia de todas as nações antigas.
Segundo Filolau, o Pitagórico (século V antes de J.C.), os filósofos antigos diziam que o material psíquico, a Essência, estava aprisionada dentro do Eu como numa tumba, como castigo por algum pecado.
Platão dá testemunho de que esta era a doutrina dos Órficos, e ele mesmo a professava.
O desejo desmedido, o desequilíbrio do regime da emanação, conduz ao fracasso.
O querer distinguir-se como Ego origina sempre a desordem e a queda de qualquer rebelião angélica.
O autor do mundo das formas é, pois, um grupo místico de criadores macho-fêmea, ou deuses duplos como Tlaloc, o Deus da chuva e dos raios e sua esposa Chalchiuhtlicue; a da saia de jade, dos panteões Maias, Astecas, Olmecas, Zapotecas, etc.
Na palavra ELOHIM encontramos uma chave transcendental que nos convida à reflexão.
Certamente, Elohim se traduz como “Deus” nas diversas versões autorizadas e revisadas da Bíblia.
É um fato inegável, não somente do ponto de vista esotérico, mas também linguístico, que o termo Elohim é um nome feminino com uma terminação plural masculina.
A tradução correta do nome Elohim, (ou Elojim, pois em hebreu o H soa como J em espanhol) é DEUSAS e DEUSES.
O espírito dos princípios masculino e feminino se estendia sobre a superfície do que ainda não tinha forma e a criação teve lugar.
Inquestionavelmente, uma religião sem Deusas está a meio caminho do completo ateísmo.
Se queremos de verdade o equilíbrio perfeito da vida anímica, devemos render culto a Elohim (os Deuses e Deusas dos antigos tempos), e não ao Jeová antropomórfico, rejeitado pelo grande Kabir Jesus.
O culto idólatra do Jeová antropomórfico, em vez de Elohim, é certamente um poderoso impedimento para a obtenção dos estados de consciência supranormais.
Nós, os antropólogos gnósticos, ao invés de rirmos ceticamente, como os antropólogos profanos, ante as representações de Deuses e Deusas dos diversos panteões astecas, maias, olmecas, toltecas, incas, chibcha, druidas, egípcios, hindus, caldeus, fenícios, mesopotâmicos, persas, romanos, tibetanos, etc., caímos prosternados aos pés dessas divindades, porque nelas reconhecemos o Elohim Criador do Universo. “Quem ri do que desconhece, está a caminho de ser idiota”.
O desvio do Demiurgo Criador, a antítese, o fatal, é a inclinação para o egoísmo, a origem de tantas amarguras.
Indubitavelmente, a consciência egóica identifica-se com Javé, o qual, segundo Saturnino de Antioquia, é um anjo caído, o gênio do mal.
A Essência, a Consciência, engarrafada dentro do Ego, manifesta-se dolorosamente no tempo, em virtude de seu próprio condicionamento.
A situação – por certo não muito agradável – repetida incessantemente nos relatos gnósticos, do Neuma submetido cruelmente às potências da Lei, ao Mundo e ao Abismo, são muito evidentes para ficarmos insistindo aqui sobre ela.
É evidente a debilidade e a desconcertante impotência do pobre mamífero intelectual equivocadamente chamado homem, para levantar-se do lodo da terra sem o auxílio do Divino.
Existe por aí um provérbio popular que diz: “A Deus rogando e com o malho dando”.
Só o raio ígneo, imperecível, encerrado no fundo da substância obscura, disforme e fria, pode reduzir o “Eu Psicológico” à poeira cósmica, a fim de liberar a Consciência, a Essência.
Com palavras ardentes, declaramos: Somente o “Hálito Divino” pode reincorporar-nos na Verdade; contudo, isto só é possível à base de trabalhos conscientes e padecimentos voluntários.
A posse específica da Gnose vai sempre acompanhada de certa atitude estrangeira ou de estranheza frente a este mundo de maya, ilusório.
O gnóstico autêntico quer uma mudança definitiva, sente intimamente os secretos impulsos do Ser. Daí a sua angústia, rejeição e embaraço diante dos diversos elementos infra-humanos que constituem o Eu.
Quem anseia perder-se no Ser, carrega a condenação e o espanto diante dos horrores do Mim Mesmo.
Contemplar-se como um momento da totalidade é saber-se infinito e rejeitar, com todas as forças do Ser, o egoísmo asqueroso da separatividade.
Dois estados psicológicos se abrem diante do gnóstico definido:
A – O do Ser, transparente, cristalino, impessoal, real e verdadeiro.
B – O do Eu, conjunto de agregados psíquicos personificando defeitos, cuja única razão de existir é a ignorância.
Eu superior e Eu inferior constituem apenas duas seções de uma mesma coisa, aspectos diferentes do Mim Mesmo, variadas facetas do infernal.
É, pois, o sinistro, esquerdo e tenebroso Eu superior, médio ou inferior, soma, subtração e multiplicação contínua de agregados psíquicos infra-humanos.
O denominado Eu Superior é uma artimanha do Mim Mesmo, um ardil intelectual do Ego que busca escapatórias para continuar existindo. É uma forma muito sutil de autoengano.
O Eu é uma obra horripilante de muitos tomos: o resultado de um inumerável ontem, um nó fatal que temos de desatar.
O autoenaltecimento egóico, o culto ao Eu, a superestimação do Mim Mesmo é paranoia, idolatria da pior espécie.
A Gnose é revelação, aspiração refinada, sintetismo conceitual, máximas aquisições.
Aparentemente, tanto na essência como no acidente, Gnose e Graça são logicamente identificáveis fenomenologicamente.
Sem a graça divina, sem o auxílio extraordinário do hálito sagrado, a auto-gnose, a auto-realização-íntima do Ser, seria algo mais que impossível.
Auto salvação é o indicado e isto exige plena identificação do que salva e com o que é salvo.
O divino que habita no fundo da Alma, a autêntica e legítima faculdade cognoscível, aniquila o Ego e absorve a Essência em seu PAROUSIA (segunda vinda do Cristo) e em total iluminação a salva. Este é o tema do Salvator Salvandus.
O Gnóstico que foi salvo das águas fechou o ciclo das amarguras infinitas; franqueou o limite que separa o âmbito inefável do Pleroma das regiões inferiores do Universo, escapou valentemente do Império do Demiurgo porque reduziu o Ego à poeira cósmica.
A passagem através dos diversos mundos, a aniquilação sucessiva dos elementos infra-humanos, afirma esta reincorporação no Sagrado Sol Absoluto. Então, transformados em criaturas terrivelmente divinas, passamos além do bem e do mal.
La Doutrina Secreta de Anáhuac
Capitulo X – Antropologia Gnóstica