A-04. A Psicologia Revolucionária

O PEQUENO MUNDO EM QUE VIVEMOS

Conferência de Samael Aun Weor

O Quinto Evangelho

Inquestionavelmente, necessitamos   refletir   um   pouco   sobre   nós   mesmos… Disseram-nos que somos o microcosmo do macrocosmo, porém vivemos realmente, por assim dizer, nas partes inferiores de nossos cinco  centros.  Já sabemos que temos cinco centros:  o intelectual, o emocional, o motor, o instintivo e o sexual.

Indubitavelmente, este microcosmo a que pertencemos é controlado por todos os nossos interesses  pessoais.  Por tal  motivo,  nem  sequer  nos  damos  conta  do  que  é  realmente  o planeta Terra.

Poderíamos  dizer  que  vivemos  em  nosso  próprio  microcosmo  (o  Cosmo  pequeno, infinitesimal).  No  entanto,  pelo  fato  de  nos  acharmos  completamente  presos  pelos  sentidos externos,  nem  sequer,  repito,  podemos  assegurar  que  vivemos  realmente  no  planeta  Terra.

Vivemos  em  nosso  microcosmo  particular,  mas  não  no  planeta  Terra.  Por  quê?  Porque  vivem em nós, em nossas mentes, sentimentos, desejos e emoções, dentro de nosso pequeno mundo; os  interesses mesquinhos  nos  controlam, não temos tempo para  pensar em outra coisa que  não sejam nossos interesses egoístas e nossas paixões.

Por  isso,  francamente,  não  vivemos  verdadeiramente  no  planeta  Terra  (o  que  parece paradoxal, mas é verdade). Quem poderia vangloriar-se de conhecer realmente o planeta em que vivemos? A Terra  é  um mundo com sete  dimensões e  quem o conhece?  Sabemos  que no mar, sobretudo em certas zonas profundas e isoladas dos oceanos Pacífico e Atlântico, há fenômenos extraordinários e lugares onde os navios não podem avançar  chamadas de “águas mortas” (águas para as quais não existe uma explicação…).

Ao friccionarmos um fósforo com o propósito de obtermos fogo, é obvio que dele surge o  fogo.  No  entanto,  antes  da  fricção,  o  fogo  já  existia  no  fósforo  em  estado  latente;  com  a fricção, a única coisa que fazemos é permitir que o fogo surja. Entretanto, as pessoas creem que antes da fricção o fogo não existia no fósforo.

Então, se o fogo não existia, de onde surgiu? Do nada, algo não  pode  sair. Sendo  assim, o fogo existia antes  do fósforo. E qual é a  natureza  do fogo?  Sobre  isso nada foi explicado. Os cientistas se limitam a dizer que “é o produto das combustões”, isto é, saem pela tangente. Este conceito não é mais que um remendo para ocultar a ignorância.

Estuda-se a  mecânica dos fenômenos, porém o que  se sabe  sobre  a  vida? Os cientistas poderão conhecer toda a mecânica da vida, porém, o que sabem sobre o “fundo vital”? Nada! Há alguns meses divulgaram em um noticiário jornalístico que era possível criar criaturas em  qualquer  laboratório.  Coisa  absurda:  filhos  de  simples  laboratórios,  “bebês  de  proveta”!

Poderia haver  maior  estupidez?  E  em  que  consistia  a  celeuma?  Bom,  simplesmente  porque haviam feito a união entre um espermatozoide com um gameta, isto é, com um óvulo; depois de unidos,  colocaram-no  em  seu  lugar  dentro  do  organismo  feminino  e,  com  isso,  processa-se  a gestação.  Isso  não  tem  nada  de  novidade  (porque  se  trata  da  famosa  inseminação  artificial).

Todavia, os cientistas pensavam que já estavam criando vida. Se colocássemos as substâncias químicas das quais são constituídos o espermatozoide e o  óvulo  e  pedíssemos  aos  cientistas  que  fizessem  um  par  de  gametas  masculino  e  feminino, estou  certo  de  que  o  fariam,  mas  se  depois  pedíssemos  que,  depois  de  unidos  os  gametas artificiais,  os  depositassem  no  lugar  correspondente, dentro  do  corpo feminino para  gerar  uma criatura ou, simplesmente, que os colocassem em uma “proveta” muito especial, estou certo de que dali não sairia nada.

Certo  dia,  um  materialista  ateu,  inimigo  do  Eterno,  discutia  com  uma  pessoa  muito religiosa e chegaram à discussão por causa daquela proposição clássica: “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha”? (Uma questão que não tem uma solução final): Quem pôs o ovo? A galinha. E de  onde  saiu a  galinha? Do ovo. E o ovo de  onde  saiu? Da  galinha…  O resultado  é que esta questão  nunca  chegará  ao  fim.  Contudo,  depois  de  tanto  discutir,  o  religioso  desafiou  o materialista  para  que  fizesse  um  ovo,  e  dele  conseguisse  gerar  um  pinto.

O  materialista  disse que o faria e o fez (um ovo muito bem feito). Depois de feito, o religioso disse: “Agora vamos chocá-lo em uma galinha para que gere um pinto”… E colocaram o ovo para chocar em uma galinha, mas não saiu nada (era um ovo morto, sem vida). Isto nos lembra muito Dom Afonso Herrera,  o grande  sábio mexicano  que  conseguiu fabricar uma  célula sem vida,  inerte.

Sempre foi uma célula morta, nunca teve vida realmente, apesar de ser estruturalmente perfeita: com seu núcleo, sua membrana etc. Era uma célula que nunca teve vida, repito, uma célula morta. Assim,  vivemos  em  um  planeta  que  desconhecemos,  ou  melhor,  não  vivemos  no planeta,  vivemos  em  nosso  pequeno  mundo,  pois  cada  um  de  nós  está  condicionado  pelos próprios  interesses,  paixões,  desejos  e  preocupações.  Não  vivemos  propriamente  no  planeta Terra…

Disseram-nos  que  existem os  sentidos internos  e não os  negamos; claramente, há  mais sentidos  internos  que  externos.  As  distintas  escolas  têm  métodos  para  desenvolver  os  sentidos internos,  porém,  digo  a  vocês  meus  caros  irmãos  que,  se  quisermos  desenvolvê-los,  devemos começar a ativar o sentido da observação de nós mesmos.

Esse sentido está latente em cada um de nós e precisamos desenvolvê-lo através da prática. Conforme vamos usando esse sentido, por si  mesmo,  ele  irá  se  desenvolvendo  e,  à  medida  que  progredirmos  na  observação  de nós mesmos,  outros  sentidos  também  se  ativarão.  Finalmente,  no  dia  em  que,  mediante  a  auto-observação íntima, tenhamos nos conhecido a fundo, integralmente e em todos os recôncavos da mente  e  do  coração,  os  múltiplos  sentidos  internos  que  possuímos  se  expressarão  e  se desenvolverão  preciosamente.  Eis  por  que  se  diz: NOSCE  TE  IPSUM (Homem,  conhece-te  a  ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses).

Conforme  vamos nos  tornando  reflexivos,  também  vamos  compreendendo  o  estado lamentável  em  que  nos encontramos…  Como  as  pessoas  não  vivem  senão  dentro  do  pequeno mundo que  carregam, ou seja, nos andares  mais  baixos  da máquina, é  claro que não entendem de assuntos relacionados com o Cosmo e nem sequer sentem interesse por isso que está mais além  delas  mesmas.

As  únicas  coisas que  interessam  são  os  assuntos  mesquinhos,  a  satisfação plena  de  seus  vícios,  de  suas  paixões,  de  seus  interesses  criados,  suas  preocupações,  seu egoísmo,  dinheiro  e  mais  dinheiro,  fornicação,  álcool…  assim  é  a  humanidade.

Por outro lado, quando se fala dos SETE COSMOS e se tenta fazer com que as pessoas comecem a estudar as suas leis e princípios, francamente, não sentem muito interesse, porque tais assuntos estão mais além delas  mesmas,  não  fazem  parte  de  suas  preocupações  mesquinhas;  essa  é  a  crua  realidade  dos fatos.

Necessitamos  estudar  a Gnosis profundamente  e  para  isso  temos  os  livros  e  as conferências.  No  entanto,  não  basta  a  simples  leitura  das  obras,  há  que  se  ir  mais  longe, irmãos… Não há dúvida de que no princípio necessita-se de ler, escutar as gravações, assistir às aulas, anotar nos cadernos e aprender de memória.

A memória é o princípio formativo, mas não é tudo. Se confiássemos sempre na memória, em geral, de nada nos serviria, porque a memória é cem  por  cento  infiel.  O  que  se  confia  à  memória,  cedo  ou  tarde,  se  perde.  Se  quisermos, verdadeiramente,  aproveitar  estes  ensinamentos,  necessitamos  depositá-los  na  Consciência.

No princípio, não  nego que  necessitamos  da  faculdade  formativa,  isto é, da  memória,  porém o conhecimento não deve ficar aí. Quando,  através  da  meditação,  procuramos  conhecer  o  sentido  íntimo  daquilo  que depositamos na memória, então, tais conhecimentos aí depositados passam às partes superiores do  centro  intelectual.

Agora,  se  buscamos  ser  mais conscientes  do  ensinamento,  todo  o conhecimento  será,  definitivamente,  absorvido  pelo  centro  emocional e  não  mais  pelo  centro intelectual (devemos distinguir entre o centro emocional e o centro intelectual).

Quando  o  conhecimento  se  tornar  emocional,  quando  tiver  sido  depositado  no  centro emocional, será absorvido, por último, na Essência, na Consciência. O conhecimento que se torna consciente  não  se  perde,  nunca,  nem  mesmo  com  a  morte  do  corpo  físico,  porque  ao retornarmos,  traremos  tudo  na  Consciência.  Todavia,  o  que  se  deposita  exclusivamente  na   memória,  cedo  ou  tarde,  se  perde.

Por  esse  motivo,  meus  caros  irmãos,  é  aconselhável depositarmos o conhecimento na Consciência. Repito,  primeiro  há  que  se  estudar;  depois,  depositar  toda  a  informação  no  centro formativo; em seguida, buscar capturar, apreender o sentido íntimo de tudo o que depositamos na  memória.

Com  isso,  sentimos  todo  o  conhecimento  como  algo,  digamos,  sentimental, emocional  para  ser  mais  claro,  porque  passa  à  parte  emocional  do  centro  intelectual.  Apesar disso,  se  insistimos  em  procurar  apreender  ou  capturar  o  essencial  do  conhecimento,  então  se tornará  emoção  vívida,  passará  ao  centro emocional  e  através  de  novas  meditações  tornar-se-á consciente. Isso ocorrerá quando, no final, o conhecimento emocional submergir-se na Essência, na  Consciência.  Esse  é  o  processo  pelo  qual  tem  que  passar  o  conhecimento,  a  fim  de que  se torne consciente…

As  pessoas  comuns  e  correntes  vivem  presas  aos  sentidos  externos;  entretanto  há pessoas que já estabeleceram, em si mesmas, um CENTRO DE GRAVIDADE PERMANENTE. São aquelas que, em vidas anteriores, estiveram nestes estudos.

Essas pessoas buscarão o ensinamento, terão anelo por ele, sentirão que, além do mundo dos sentidos, existe algo e não se equivocam: muito além destes  sentidos  que  utilizamos  para  fazer  contato  com  o  mundo  exterior,  encontramos  a Essência.  Não  há  dúvida  de  que  as  pessoas  com  um  centro  de  gravidade  permanente anelam, verdadeiramente,  algo  distinto,  diferente.

Apesar  de  todas  as  contingências  da  existência,  suas Essências permanecem imutáveis, porque não foram deterioradas ou alteradas. Portanto, é na Essência que está o melhor que possuímos; a Essência é a Consciência, o mais decente e digno do nosso Ser.

Existem duas correntes de pensamento em cada um de nós: uma vem da personalidade, a outra, da Essência. Também  podemos  dizer  que  são  os  pensamentos  advindos  da  personalidade  cultivada, pois apesar de parecerem mais brilhantes, não possuem um conteúdo confiável e seguro. Quanto aos  pensamentos  provenientes  da  Essência,  estes  sim,  são  superiores.  Nesse  caso,  necessita-se de uma boa capacidade de observação para distinguir estes, daqueles.

Ocorre que, como os pensamentos da Essência são mais simples e os da personalidade, mais  complicados,  poderíamos  nos  confundir  e  crer  que  estes  são  superiores  àqueles.  Não obstante,  esta  confusão  fundamenta-se,  exclusivamente,  na  ignorância.  Os  pensamentos  da Essência, ainda que não tenham muita erudição e sejam muito simples, inquestionavelmente são superiores.

Quando alguém  começa  a  ocupar-se  um  pouquinho  com  sua  situação  na  existência, quando  se  dá  conta  de  que  não  é  mais  do  que  um  habitante  da  Terra,  que  é  tão  pequena… quando   reflete   que   a   Terra   é   um   pedaço   do   Sol,   um   pedaço   desprendido   do   Sol, inegavelmente isto está nos indicando que sua Essência encontra-se, digamos, agitada, possui anelo, algo superior.

Obviamente,  tais  pensamentos,  ainda  que  sejam  muito  simples,  não  interessam  às pessoas  que  vivem  no  microcosmo,  dentro  do  infinitesimal  mundo  dos  sentidos  comuns. Ninguém  sentiria  o  desejo  de  saber  se  a  Terra  é  um  pedaço  do  Sol  e  se  o  Sol  pertence  à  Via Láctea,  a  menos  que  da  Essência  saísse,  digamos,  tal  anelo  que,  embora  simples,  no fundo  é grandioso. Por conseguinte é necessário que os irmãos compreendam que o mais importante que temos em nosso interior é a Essência, a Consciência.

São muitos os que se preocupam com os poderes mágicos, porém afirmo que a ESSÊNCIA desperta  possui,  em  si  mesma,  belíssimas  faculdades.  O  que  necessitamos  é  desenvolvê-las  e, para  tal,  precisamos  trabalhar  sobre  nós  mesmos.  Quando,  verdadeiramente,  ocupamo-nos  em eliminar,  de  nossa  natureza  íntima,  os  defeitos  psicológicos  como  a  ira,  a  cobiça,  a  luxúria,  a inveja,  o  orgulho,  a  preguiça,  a  gula  etc.,  a  Essência,  naturalmente,  começa  a  se  desenvolver maravilhosamente.

Normalmente, a Essência está engarrafada, como já disse tantas vezes, nesses múltiplos “elementos inumanos” que carregamos em nosso interior: os defeitos psicológicos. À medida que  vamos  desintegrando  os eus,  a Essência  vai  ficando  absolutamente  livre,  completamente desperta, com uma espontaneidade preciosa nesse mundo de manifestação física.

À  medida  que  vamos  aniquilando  o ego, o eu da  Psicologia,  o “mim  mesmo”,  a Essência  se  irá  libertando.  Com  a  morte  radical  do eu, do “mim mesmo”, do “si mesmo”, a Essência ficará absolutamente livre e poderá se manifestar através de um corpo humano, através de um cérebro (ou de três cérebros –porque realmente não temos somente o cérebro intelectual, mas  também  o  cérebro  emocional  e  o  cérebro  motor) –,  tornando-se  maravilhosa.

Através  da Essência resplandecerão os poderes da clarividência, clariaudiência, telepatia, o “desdobramento astral” e demais sentidos íntimos que aqui não podemos enumerar. Portanto,  o  único procedimento  para  se  conseguir  poderes  é  o  da  morte  mística.  Por isso, disseram-nos: “Se o gérmen não morre, a planta não nasce…”.

Quando morremos em nós mesmos, e esse “querido ego” que levamos interiormente é pulverizado, os poderes afloram, porque surge  a  Essência  livre  com  inúmeras  faculdades,  de  preciosos  sentidos  e  capacidades formidáveis.

Existem também muitas instituições que ensinam como se desenvolver os chacras para se  conseguir  poderes  mágicos;  algumas  delas  ensinam  práticas  que  poderíamos classificar  de “tenebrosas”. Certamente podemos afirmar, meus queridos irmãos que, se nos preocupássemos somente em desenvolver poderes e não aniquilássemos o “mim mesmo”, o “si mesmo”, o eu da Psicologia,  a  única  coisa  que  poderia  acontecer  seria  nos  convertermos  em  magos  negros.

As Sagradas  Escrituras  falam  claramente  disso  quando  mencionam: “Buscai  primeiro  o  Reino  de Deus e a sua Justiça, que tudo o mais vos será dado por acréscimo”. Observem  como  uma  criança  recém-nascida  é  bela;  isso  porque  a  única  coisa  que  se expressa  nela  é  a  Essência  (porém,  e  repito,  estou  falando  de  um  recém-nascido).  Os  que pensam   que   uma   criança   recém-nascida   se encontra   inconsciente,   adormecida,   estão profundamente  equivocados.

Ela  vê  cada  um  de  vocês  com  piedade,  está  mais  desperta.  Se vocês  creem  que  um  recém-nascido  não  se  dá  conta  da  vida  de  vocês,  estão  perfeitamente equivocados;  não  só  se  dá conta  do  modo  como  vocês  vivem,  como  também,  e  o  que  é  pior e mais lamentável, percebem as trevas que vocês carregam internamente.

Não  quero  dizer  que  cem  por  cento  da  Essência  se  expresse em  uma  criança  recém-nascida, não. Em um recém-nascido que retornou à existência (ou seja, que se reincorporou em um organismo  humano),  atua  somente  uma  fração  mínima  da  Essência.  Não  obstante,  essa  fração está livre e desperta, autoconsciente.

É pena que a totalidade da Essência não possa se expressar. Praticamente, exprime-se dela só uns três por cento, em uma criança recém-nascida, contudo esse percentual está livre, desperto e consciente. Por isso, a criança tem muitos sentidos íntimos em plena atividade.

Claramente,  à  medida  que  o  tempo  passa,  tudo  vai  mudando:  aquela  criança,  devido especialmente à influência dos mais velhos, vai “adormecendo”; a criança começa a imitar os gestos dos adultos, suas emoções inferiores, até ficar também “adormecida”, fazendo o mesmo que os adultos.

Como  o Eu é  múltiplo,  qualquer iluminado que  se  proponha  a  observar  uma  criança recém-nascida  poderá  ver  o  seguinte:  a  criança  em  seu  berço  desperta  uma  fração  mínima  da Essência, parte essa que está completamente desperta e autoconsciente. Por isso, a criança vê ao redor do berço “criaturas” que tentam manifestar distintos egos,  algumas  com  belas  formas, outras  com  formas  horripilantes  indo  e  vindo,  entrando e  saindo  do  quarto,  dando voltas  por sobre o berço. São os eus que querem se manifestar.

Dentro desses eus estão divididas as outras partes da Essência, isto é, os noventa e sete por cento da Essência que estão embutidos em cada um  desses  elementos. (Em  um determinado Eu está  embutida  determinada  quantidade  de Essência, em outro Eu, outra quantidade). Esses múltiplos Eus dão voltas ao redor do berço querem  manifestar-se,  expressar-se,  introduzir-se  no  corpinho  da  criança,  mas  não podem ainda.

Na medida em que a nova personalidade infantil vai se formando, através do exemplo dos mais  velhos,  do  meio  e  da  escola,  os Eus vão  tendo,  também,  oportunidade  para  se  expressar, depois   que   a   fontanela   frontal   dos   recém-nascidos   se   fecha,   vocês   podem   observar perfeitamente  nas  crianças  que  o  osso  parietal  superior,  a  fontanela  frontal  chamada  de moleirinha, está ligeiramente aberto).

Enquanto estiver aberto, tudo corre bem, porém, à medida que  a  fontanela  frontal  vai  se  fechando,  a  personalidade  também  vai  se  desenvolvendo, permitindo que os Eus comecem a intervir cada vez mais. Então, começamos a ver, nas crianças, certas  manifestações  de  ira  (especialmente  entre  três  e  quatro  anos  de  idade),  tornando-as irascíveis.   Pouco   a   pouco,   todos   os Eus vão   tendo   oportunidade   para   se   manifestar definitivamente. É muito interessante observarmos as crianças recém-nascidas…

Que bom seria se a Essência não estivesse engarrafada, embutida em todos os Eus; que bom  seria  se  a  criança  crescesse  sem  que  nenhum Eu se  introduzisse  nela  e  que  toda  a  sua Essência atuasse durante a vida inteira. Com isso, todos os cincos cilindros da máquina: intelectual, emocional, motor, instintivo e sexual estariam sob o controle da Essência, atuando em  harmonia  com  o  infinito.

Lamentavelmente  os  noventa  e  sete  por  cento  da  Essência  estão engarrafados entre os diversos “elementos inumanos” que constituem o ego, o eu.  Por  isso, necessitamos   desenvolver   a   Essência.   Precisamos   desengarrafá-la,   desenfrascá-la,   para lograrmos os múltiplos poderes naturais e divinos que se expressarão com toda beleza e poder.

Não necessitamos de nos “esforçar” para conseguir poderes, devemos nos dedicar a morrer em nós mesmos, aqui e agora, porque somente com a morte advém o novo. Observem a vida dos grandes cristãos: não se preocupavam em conseguir poderes, só se ocupavam  com  a  santidade,  em  eliminar  cada  um  de  seus  defeitos  psicológicos,  morrer  em  si mesmos e, à medida que o faziam, manifestavam-se múltiplas faculdades supranormais.

Foram conhecidos  sempre  como  santos,  tanto  oriundos  do  Oriente  como  do  Ocidente.  Por  isso,  a santidade  é o aspecto mais  importante, meus queridos irmãos. Aqui, termina a minha  exposição. Se alguém tem alguma pergunta, pode fazê-la com a mais inteira liberdade.

Discípulo: Mestre, você nos explicou o processo pelo qual deve passar o conhecimento, a fim de que se torne consciente. Pergunto se a natureza da Verdade é de caráter emocional ou instintivo?

Mestre: A Verdade é algo que não se pode definir, porque quando assim o fazemos a  desfiguramos.  Por outro  lado,  podemos  dizer  que  os  passos  para  que  o  conhecimento  se  torne consciente são delineados da seguinte forma: primeiro, estuda-se para que o conhecimento fique depositado na memória; segundo, medita-se com a intenção de capturar o profundo significado do   que   foi   depositado   na   memória   e   quando   isso   acontece   (mediante   a   meditação)   o conhecimento  passa  à  parte  emocional  do  centro  intelectual.  Aqui  cabe  explicar  que  o  centro intelectual  se  divide  em  três  partes:  a  parte  intelectual  superior,  a  parte  emocional  e  a  parte motora.

Diremos  que  o  conhecimento  passa  à  parte  emocional  do  centro  intelectual  quando começamos a sentir aquele “sabor” do que foi depositado na memória. Em um estado mais avançado  da  meditação, tal conhecimento abandona, definitivamente, o centro intelectual, para ficar depositado no centro emocional. Posteriormente, também mediante a técnica da meditação, fazemos  com  que,  finalmente,  o  conhecimento  passe  do  centro  emocional  à  Essência.  Nessa, definitivamente,  o  conhecimento,  ou  seja,  as Verdades  levadas  à  Essência,  tem  um  sabor  mais emocional  (e  aqui  falo  não  de  emoções  inferiores,  mas  de  emoções  superiores).  A  emoção superior  permite  a  qualquer  Verdade  passar  à  Essência,  ficando  aí  depositada.

O  frio  intelecto analítico de um Aristóteles, por exemplo, é completamente manco e não permitiria, nunca, que o conhecimento se tornasse consciente, ficaria depositado na memória e isso é tudo. Por isso é que entre  os  sistemas  aristotélicos  (que  são  meros  raciocínios  frios)  e  os  sistemas  platônicos ou pórfiro  (de  Pórfiro),  prefiro  os  de  Platão.  Os  métodos  neoplatônicos  e  das  Escolas  de Jâmblico  e  Pórfiro são  emocionais  e  nos  permitem  levar  o  conhecimento  à  Consciência, tornando-os conscientes, coisa que não se obteria com o frio raciocínio aristotélico e isso é tudo. Há alguma outra pergunta?

Discípulo: Venerável  Mestre,  de  que  maneira  poderíamos  conseguir  fazer  com  que  a criança, à medida que sua nova personalidade vai se formando, não se deixe aprisionar pelos eus?

Mestre: Pois  a  Verdade  é  o  que  é  (VERBUM  EST  CODEX)…  Obviamente,  em  uma criança recém-nascida se expressa uma fração mínima de sua Essência, por isso ela é formosa e sublime. Infelizmente, e isso é o pior, cedo ou tarde (sobretudo depois que se fecha a fontanela frontal dos recém-nascidos), os eus começam a se manifestar, introduzindo-se no seu corpinho, porque não foram dissolvidos. Se pudéssemos orientar as crianças desde a infância, deveríamos ensinar-lhes o caminho da Gnosis, mostrar-lhes o que são seus eus.

Não  obstante, isso já  seria um  capítulo  à  parte,  uma  questão  para  abordarmos  em  outra  conferência,  porque  seria  muito longo falar sobre a educação das crianças. Unicamente limito-me a dizer que, enquanto existam eus,  estes  terão  que  se  manifestar.  O  desejável  é  que  nós  desintegremos  os eus para  que  a Essência fique livre. Neste caso, ao retornarmos e nos reincorporarmos em um novo “veículo”, retornaríamos  completamente  despertos  e  seguiríamos  com  firmeza  pela  Senda  do  Fio  da Navalha,  seríamos  diferentes.

Infelizmente, ao  nos  reincorporarmos  cedo  ou  tarde,  os eus começam  a  se  manifestar  penetrando  no  corpo,  acabando  com  essa  beleza  própria  dos  recém-nascidos.  Por  isso  é  que  o  Cristo  disse: “Enquanto  não  sejais  como  crianças,  não  podereis entrar no Reino dos Céus…”. Necessitamos  reconquistar  a  inocência  na  mente  e  no  coração. Muitos creem que a inocência torna o indivíduo mais débil, mais tolo, e que qualquer um pode explorá-lo miseravelmente, que todo o mundo faz dele o que quer. Todavia, é um conceito falso emitido pelo Ego que se crê forte, onipotente, poderoso; realmente, não é assim.

A  verdade  é  que  quando  alguém  desintegra  o Ego, surge  a  inocência,  mas  com sabedoria, porque a desintegração de cada elemento nos dá sapiência… Reflitam bem  sobre  o  que  é  o  processo  da  ira.  Quantas  são  as  situações  que provocam  a  ira?  Múltiplas,  não  é  correto?  Pode  ocorrer  ira  por um  ataque  de  ciúmes,  porque  nos sentimos enganados, por causa de alguém que nos feriu o amor-próprio.

Bem, detalhada como surgiu,  como  se  processou,  é  muito  interessante.  Quando  dissolvemos  algum ego, como  por exemplo  o Eu da  ira,  é  porque  o  compreendemos  previamente  e,  com  isso,  adquirimos  uma sabedoria formidável. Se vocês querem o “pão da sabedoria”, têm que ir compreendendo cada um dos “elementos indesejáveis” que vão desintegrar e, com isso, adquirirão sapiência. Em resumo,  quando  vocês desintegram  o Ego totalmente,  libertam  as  suas  Essências,  tornam-se inocente com essa sabedoria e sapiência que o protege, permitindo-lhes conhecer não somente o bom e o mau, mas também distinguir o mau do bom e o bom do mau.

Discípulo: Mestre,  é  correto  afirmar  que,  à  medida  que  vamos  dissolvendo  os  Egos, estes  vão  se  tornando  cada  vez  menores,  deixando  suas  formas  horrendas  e se embelezando? Podemos dizer assim?

Mestre: Sim,  é  correto!  Os Eus têm  formas  variadas.  Há eus monstruosos  que parecem   verdadeiras   bestas   horripilantes   e   qualquer   clarividente   que   os   observe,   fica horrorizado. Vocês já  observaram que  as  crianças recém-nascidas costumam assustar-se de repente, dando gritos sem motivo algum? Isso se deve ao fato de que eles veem alguns de seus próprios eus dando voltas ao redor do berço, causando-lhes pavor.

Se isso acontece com os recém-nascidos, o que diremos das pessoas que vivem no Abismo? Veem frente a frente seus próprios eus…espantos e horrores indescritíveis. Contudo, conforme alguém aqui no mundo físico vai dissolvendo os eus, estes vão diminuindo. Suponhamos que queiramos dissolver um Eu da inveja. No princípio, será um monstro horrendo, mas à medida que trabalhamos, o Eu vai perdendo volume, ficando cada vez menor e mais belo e, por último, toma a forma de uma criança até que se desintegra e se converte em poeira cósmica.

Até aqui se cumpre o que disse o Cristo: “Enquanto não sejais como crianças, não entrareis no Reino dos Céus…”. Por isso, necessitamos desintegrar todos os Eus para que a Essência fique livre e se expresse em nós com toda a sua beleza, naturalidade e  espontaneidade…  Já  disse  que  temos  mais  sentidos  internos  que  externos  e  que  devemos começar  a  utilizá-los.

Precisamos  desenvolver  esse  sentido  da  observação  de  nós  mesmos.  À medida  que  usamos  o  sentido  de  auto-observação,  outros  sentidos  internos,  esses  também  irão se desenvolvendo,   isso   é   óbvio. Assim,   queridos   irmãos,   necessitamos  trabalhar intensamente sobre nós mesmos. Algum outro irmão deseja perguntar?

Discípulo: Venerável Mestre, você nos dizia que algumas pessoas estabeleceram em si mesmas um centro de gravidade permanente, e que suas Essências permanecem imutáveis, não foram deterioradas ou alteradas. Isso se refere aos Mestres caídos, aos Bodhisattvas?

Mestre: Bem,  sobre  o  centro  de  gravidade  permanente,  toda  pessoa  que  em  vidas anteriores  esteve  neste  tipo  de  estudos  e  trabalhou  sobre  si  mesma,  o  possui.  Pessoas  assim criaram seus centros de gravidade, uns mais fortes, outros mais fracos. Quando alguém tem um centro de gravidade específico é porque trabalhou em vidas anteriores. Inquestionavelmente, ao retornar  ao  mundo  aparecem  todos  os  elementos  de  que  ele  necessita  para  avançar:  livros, instrutores, enfim, tudo chega a ele.

Discípulo: Mestre,  todos   nós que  lidamos  com  crianças  pequenas  sabemos  muito  bem que,  em algumas ocasiões, aparecem nelas certas expressões de  desgosto, isso que  chamamos de birra. Poderíamos considerar tais manifestações como expressões do Eu pluralizado ou de algum Eu específico?

Mestre: Sim, isto é real. Esses eus já se expressam com liberdade e, à medida que a criança  vai  crescendo,  as  oportunidades  para  a  expressão  dos  diversos Eus serão  cada  vez maiores, até que, no final, expressam-se definitivamente na pessoa todo o “eu pluralizado”, que a torna feia, horrorosa. Se através de nós se expressasse unicamente a Essência, desfrutaríamos da  beleza  de  Deus  através  da  qual  emana,  por  sua  vez,  isso  que  se  chama  amor.

Por  que  há tantas confusões  no mundo e  os humanoides não se entendem uns  com os  outros? Vou expor-lhes um caso concreto: uma dama resolve, de imediato, atender a um cavalheiro que lhe pareceu agradável  e  simpático.  A  dama  o  fez  desinteressadamente  sem  que,  digamos,  tivesse  nenhum pensamento  de  luxúria,  porque  não  estava  enamorada  dele.  Unicamente  parece-lhe  uma  boa pessoa  e  ocupa-se  em  atendê-lo  nestas  ou  naquelas  tarefas.  Todavia,  o  que  acontece?  O cavalheiro  possui  elementos  inumanos que  controlam  os  cinco  “cilindros  da  sua  máquina orgânica”. Com isso o ego interpreta como lhe apraz.

Nessa situação, as boas maneiras da dama, em  vez  de  passarem  ao  centro  emocional,  passam  para  o  centro  instintivo-sexual,  surgindo  no cavalheiro  o Eu da  luxúria.  É  claro  que  a  mente,  controlada  pelo  sexo,  como  frequentemente acontece,   faz   com   que   o   cavalheiro   pense: “Aquela   dama   está   apaixonada   por   mim, possivelmente  agrado-lhe…” Depois  ele  começa  a  dirigir-lhe  propostas  sexuais  e  a  dama  se surpreende dizendo para si mesma: “Impossível, pois eu só o estava atendendo e ele interpretou mal minha atitude, as minhas boas maneiras”…Sim, realmente interpretou mal e por quê?

Porque tem o ego que controla os cinco “cilindros da máquina”. Se aquele cavalheiro não tivesse ego, se fosse unicamente a Essência que controlasse os cinco “centros da máquina”, as atenções daquela dama passariam ao centro emocional e se expressariam com alegria pura e beleza real; não haveria, pois, má interpretação. Esse exemplo que expus pode estender-se em muitos outros sentidos.  Dizemos  alguma  coisa  e  a  outra  pessoa  interpreta  mal.  E  por  que  interpreta  mal?

Porque   não   entende   com   o   centro   correspondente,   senão com   um   centro   que   não   lhe corresponde.  Emitimos  um  conceito  intelectual  e  pode  ser  que  o  centro  emocional  (não  o superior,  mas  o  inferior)  o  receba  e  o  interprete  mal,  pense  que  está  ferindo  o  seu  amor-próprio,  achando  que  foi  lançada  uma  ironia,  de  tal maneira  que  reage  contrariamente. Conclusão:  não  nos  entendemos  uns  com  os  outros.  E  por  quê?

Por  causa  do ego que  é  uma Torre  de  Babel.  Nós,  os humanoides, não  poderemos  nos  entender  sobre  a  face  da  Terra enquanto  tivermos  o ego. Haverá  guerras  e  rumores de  guerra,  greves,  violência,  ódio… enquanto  não  dissolvermos  o ego.

O ego nos  tornou  horripilantes,  não  desfrutamos  da verdadeira beleza, somos espantosamente feios… Seria bom se vocês vissem quão belas são as Essências livres do ego! Um exemplo é o de alguém que se enche de êxtase quando penetra em um jardim e, com suas faculdades superiores, vê os elementais inocentes das flores desprovidos de ego.

Os elementais das  árvores  são  vistos  como  crianças,  cheias  de  beleza,  desprovidas  de ego. (Sem ego, não há problemas entre eles, pois vivem em um verdadeiro Paraíso Elemental da natureza,  desfrutando  de  preciosas  faculdades  da  Essência  livre).  Dessa  maneira,  irmãos, enquanto  estiverem  assim  (cheios  de egos),  será  impossível  gozarem  da  felicidade  verdadeira.

No  entanto,  no  dia  em  que  vocês  conquistarem  a  inocência  e  morrerem  em  si  mesmos, conversarão e conviverão maravilhosamente com as crianças inocentes de toda esta Criação nos Paraísos Elementais. Entretanto, com o ego, não! Assim como estão, cheios de Eus, os príncipes do  fogo,  do  ar,  das  águas  e  da  terra  lhes fecharão  as  portas.  Os Eus são  monstros  horríveis!

Quando  estou  em  meditação  e,  de  repente,  alguém  vem  visitar-me,  recebo  as  vibrações horripilantes  e  sinistras  do  visitante,  porque  percebo  seus eus;  percebo a  sua  presença  e vejo que possuem elementos inumanos. Com quem poderíamos comparar alguém que tem ego?

Não  com Frankenstein, porque  é  uma  ficção sem nenhum  valor científico… então, com quem? Com o conde Drácula! É esse tipo de vibrações que carrega qualquer pessoa que tem ego. Agora vocês  compreenderão  por que  as  criaturas elementais da  natureza  horrorizam-se  quando  veem alguém  que  possui ego, fogem  apavoradas…  compreenderam-me?

Bom,  aqui,  meus  caros irmãos, termina esta conferência.

Samael Aun Weor