A-04. A Psicologia Revolucionária
O PEQUENO MUNDO EM QUE VIVEMOS
Conferência de Samael Aun Weor
O Quinto Evangelho
Inquestionavelmente, necessitamos refletir um pouco sobre nós mesmos… Disseram-nos que somos o microcosmo do macrocosmo, porém vivemos realmente, por assim dizer, nas partes inferiores de nossos cinco centros. Já sabemos que temos cinco centros: o intelectual, o emocional, o motor, o instintivo e o sexual.
Indubitavelmente, este microcosmo a que pertencemos é controlado por todos os nossos interesses pessoais. Por tal motivo, nem sequer nos damos conta do que é realmente o planeta Terra.
Poderíamos dizer que vivemos em nosso próprio microcosmo (o Cosmo pequeno, infinitesimal). No entanto, pelo fato de nos acharmos completamente presos pelos sentidos externos, nem sequer, repito, podemos assegurar que vivemos realmente no planeta Terra.
Vivemos em nosso microcosmo particular, mas não no planeta Terra. Por quê? Porque vivem em nós, em nossas mentes, sentimentos, desejos e emoções, dentro de nosso pequeno mundo; os interesses mesquinhos nos controlam, não temos tempo para pensar em outra coisa que não sejam nossos interesses egoístas e nossas paixões.
Por isso, francamente, não vivemos verdadeiramente no planeta Terra (o que parece paradoxal, mas é verdade). Quem poderia vangloriar-se de conhecer realmente o planeta em que vivemos? A Terra é um mundo com sete dimensões e quem o conhece? Sabemos que no mar, sobretudo em certas zonas profundas e isoladas dos oceanos Pacífico e Atlântico, há fenômenos extraordinários e lugares onde os navios não podem avançar chamadas de “águas mortas” (águas para as quais não existe uma explicação…).
Ao friccionarmos um fósforo com o propósito de obtermos fogo, é obvio que dele surge o fogo. No entanto, antes da fricção, o fogo já existia no fósforo em estado latente; com a fricção, a única coisa que fazemos é permitir que o fogo surja. Entretanto, as pessoas creem que antes da fricção o fogo não existia no fósforo.
Então, se o fogo não existia, de onde surgiu? Do nada, algo não pode sair. Sendo assim, o fogo existia antes do fósforo. E qual é a natureza do fogo? Sobre isso nada foi explicado. Os cientistas se limitam a dizer que “é o produto das combustões”, isto é, saem pela tangente. Este conceito não é mais que um remendo para ocultar a ignorância.
Estuda-se a mecânica dos fenômenos, porém o que se sabe sobre a vida? Os cientistas poderão conhecer toda a mecânica da vida, porém, o que sabem sobre o “fundo vital”? Nada! Há alguns meses divulgaram em um noticiário jornalístico que era possível criar criaturas em qualquer laboratório. Coisa absurda: filhos de simples laboratórios, “bebês de proveta”!
Poderia haver maior estupidez? E em que consistia a celeuma? Bom, simplesmente porque haviam feito a união entre um espermatozoide com um gameta, isto é, com um óvulo; depois de unidos, colocaram-no em seu lugar dentro do organismo feminino e, com isso, processa-se a gestação. Isso não tem nada de novidade (porque se trata da famosa inseminação artificial).
Todavia, os cientistas pensavam que já estavam criando vida. Se colocássemos as substâncias químicas das quais são constituídos o espermatozoide e o óvulo e pedíssemos aos cientistas que fizessem um par de gametas masculino e feminino, estou certo de que o fariam, mas se depois pedíssemos que, depois de unidos os gametas artificiais, os depositassem no lugar correspondente, dentro do corpo feminino para gerar uma criatura ou, simplesmente, que os colocassem em uma “proveta” muito especial, estou certo de que dali não sairia nada.
Certo dia, um materialista ateu, inimigo do Eterno, discutia com uma pessoa muito religiosa e chegaram à discussão por causa daquela proposição clássica: “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha”? (Uma questão que não tem uma solução final): Quem pôs o ovo? A galinha. E de onde saiu a galinha? Do ovo. E o ovo de onde saiu? Da galinha… O resultado é que esta questão nunca chegará ao fim. Contudo, depois de tanto discutir, o religioso desafiou o materialista para que fizesse um ovo, e dele conseguisse gerar um pinto.
O materialista disse que o faria e o fez (um ovo muito bem feito). Depois de feito, o religioso disse: “Agora vamos chocá-lo em uma galinha para que gere um pinto”… E colocaram o ovo para chocar em uma galinha, mas não saiu nada (era um ovo morto, sem vida). Isto nos lembra muito Dom Afonso Herrera, o grande sábio mexicano que conseguiu fabricar uma célula sem vida, inerte.
Sempre foi uma célula morta, nunca teve vida realmente, apesar de ser estruturalmente perfeita: com seu núcleo, sua membrana etc. Era uma célula que nunca teve vida, repito, uma célula morta. Assim, vivemos em um planeta que desconhecemos, ou melhor, não vivemos no planeta, vivemos em nosso pequeno mundo, pois cada um de nós está condicionado pelos próprios interesses, paixões, desejos e preocupações. Não vivemos propriamente no planeta Terra…
Disseram-nos que existem os sentidos internos e não os negamos; claramente, há mais sentidos internos que externos. As distintas escolas têm métodos para desenvolver os sentidos internos, porém, digo a vocês meus caros irmãos que, se quisermos desenvolvê-los, devemos começar a ativar o sentido da observação de nós mesmos.
Esse sentido está latente em cada um de nós e precisamos desenvolvê-lo através da prática. Conforme vamos usando esse sentido, por si mesmo, ele irá se desenvolvendo e, à medida que progredirmos na observação de nós mesmos, outros sentidos também se ativarão. Finalmente, no dia em que, mediante a auto-observação íntima, tenhamos nos conhecido a fundo, integralmente e em todos os recôncavos da mente e do coração, os múltiplos sentidos internos que possuímos se expressarão e se desenvolverão preciosamente. Eis por que se diz: NOSCE TE IPSUM (Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses).
Conforme vamos nos tornando reflexivos, também vamos compreendendo o estado lamentável em que nos encontramos… Como as pessoas não vivem senão dentro do pequeno mundo que carregam, ou seja, nos andares mais baixos da máquina, é claro que não entendem de assuntos relacionados com o Cosmo e nem sequer sentem interesse por isso que está mais além delas mesmas.
As únicas coisas que interessam são os assuntos mesquinhos, a satisfação plena de seus vícios, de suas paixões, de seus interesses criados, suas preocupações, seu egoísmo, dinheiro e mais dinheiro, fornicação, álcool… assim é a humanidade.
Por outro lado, quando se fala dos SETE COSMOS e se tenta fazer com que as pessoas comecem a estudar as suas leis e princípios, francamente, não sentem muito interesse, porque tais assuntos estão mais além delas mesmas, não fazem parte de suas preocupações mesquinhas; essa é a crua realidade dos fatos.
Necessitamos estudar a Gnosis profundamente e para isso temos os livros e as conferências. No entanto, não basta a simples leitura das obras, há que se ir mais longe, irmãos… Não há dúvida de que no princípio necessita-se de ler, escutar as gravações, assistir às aulas, anotar nos cadernos e aprender de memória.
A memória é o princípio formativo, mas não é tudo. Se confiássemos sempre na memória, em geral, de nada nos serviria, porque a memória é cem por cento infiel. O que se confia à memória, cedo ou tarde, se perde. Se quisermos, verdadeiramente, aproveitar estes ensinamentos, necessitamos depositá-los na Consciência.
No princípio, não nego que necessitamos da faculdade formativa, isto é, da memória, porém o conhecimento não deve ficar aí. Quando, através da meditação, procuramos conhecer o sentido íntimo daquilo que depositamos na memória, então, tais conhecimentos aí depositados passam às partes superiores do centro intelectual.
Agora, se buscamos ser mais conscientes do ensinamento, todo o conhecimento será, definitivamente, absorvido pelo centro emocional e não mais pelo centro intelectual (devemos distinguir entre o centro emocional e o centro intelectual).
Quando o conhecimento se tornar emocional, quando tiver sido depositado no centro emocional, será absorvido, por último, na Essência, na Consciência. O conhecimento que se torna consciente não se perde, nunca, nem mesmo com a morte do corpo físico, porque ao retornarmos, traremos tudo na Consciência. Todavia, o que se deposita exclusivamente na memória, cedo ou tarde, se perde.
Por esse motivo, meus caros irmãos, é aconselhável depositarmos o conhecimento na Consciência. Repito, primeiro há que se estudar; depois, depositar toda a informação no centro formativo; em seguida, buscar capturar, apreender o sentido íntimo de tudo o que depositamos na memória.
Com isso, sentimos todo o conhecimento como algo, digamos, sentimental, emocional para ser mais claro, porque passa à parte emocional do centro intelectual. Apesar disso, se insistimos em procurar apreender ou capturar o essencial do conhecimento, então se tornará emoção vívida, passará ao centro emocional e através de novas meditações tornar-se-á consciente. Isso ocorrerá quando, no final, o conhecimento emocional submergir-se na Essência, na Consciência. Esse é o processo pelo qual tem que passar o conhecimento, a fim de que se torne consciente…
As pessoas comuns e correntes vivem presas aos sentidos externos; entretanto há pessoas que já estabeleceram, em si mesmas, um CENTRO DE GRAVIDADE PERMANENTE. São aquelas que, em vidas anteriores, estiveram nestes estudos.
Essas pessoas buscarão o ensinamento, terão anelo por ele, sentirão que, além do mundo dos sentidos, existe algo e não se equivocam: muito além destes sentidos que utilizamos para fazer contato com o mundo exterior, encontramos a Essência. Não há dúvida de que as pessoas com um centro de gravidade permanente anelam, verdadeiramente, algo distinto, diferente.
Apesar de todas as contingências da existência, suas Essências permanecem imutáveis, porque não foram deterioradas ou alteradas. Portanto, é na Essência que está o melhor que possuímos; a Essência é a Consciência, o mais decente e digno do nosso Ser.
Existem duas correntes de pensamento em cada um de nós: uma vem da personalidade, a outra, da Essência. Também podemos dizer que são os pensamentos advindos da personalidade cultivada, pois apesar de parecerem mais brilhantes, não possuem um conteúdo confiável e seguro. Quanto aos pensamentos provenientes da Essência, estes sim, são superiores. Nesse caso, necessita-se de uma boa capacidade de observação para distinguir estes, daqueles.
Ocorre que, como os pensamentos da Essência são mais simples e os da personalidade, mais complicados, poderíamos nos confundir e crer que estes são superiores àqueles. Não obstante, esta confusão fundamenta-se, exclusivamente, na ignorância. Os pensamentos da Essência, ainda que não tenham muita erudição e sejam muito simples, inquestionavelmente são superiores.
Quando alguém começa a ocupar-se um pouquinho com sua situação na existência, quando se dá conta de que não é mais do que um habitante da Terra, que é tão pequena… quando reflete que a Terra é um pedaço do Sol, um pedaço desprendido do Sol, inegavelmente isto está nos indicando que sua Essência encontra-se, digamos, agitada, possui anelo, algo superior.
Obviamente, tais pensamentos, ainda que sejam muito simples, não interessam às pessoas que vivem no microcosmo, dentro do infinitesimal mundo dos sentidos comuns. Ninguém sentiria o desejo de saber se a Terra é um pedaço do Sol e se o Sol pertence à Via Láctea, a menos que da Essência saísse, digamos, tal anelo que, embora simples, no fundo é grandioso. Por conseguinte é necessário que os irmãos compreendam que o mais importante que temos em nosso interior é a Essência, a Consciência.
São muitos os que se preocupam com os poderes mágicos, porém afirmo que a ESSÊNCIA desperta possui, em si mesma, belíssimas faculdades. O que necessitamos é desenvolvê-las e, para tal, precisamos trabalhar sobre nós mesmos. Quando, verdadeiramente, ocupamo-nos em eliminar, de nossa natureza íntima, os defeitos psicológicos como a ira, a cobiça, a luxúria, a inveja, o orgulho, a preguiça, a gula etc., a Essência, naturalmente, começa a se desenvolver maravilhosamente.
Normalmente, a Essência está engarrafada, como já disse tantas vezes, nesses múltiplos “elementos inumanos” que carregamos em nosso interior: os defeitos psicológicos. À medida que vamos desintegrando os eus, a Essência vai ficando absolutamente livre, completamente desperta, com uma espontaneidade preciosa nesse mundo de manifestação física.
À medida que vamos aniquilando o ego, o eu da Psicologia, o “mim mesmo”, a Essência se irá libertando. Com a morte radical do eu, do “mim mesmo”, do “si mesmo”, a Essência ficará absolutamente livre e poderá se manifestar através de um corpo humano, através de um cérebro (ou de três cérebros –porque realmente não temos somente o cérebro intelectual, mas também o cérebro emocional e o cérebro motor) –, tornando-se maravilhosa.
Através da Essência resplandecerão os poderes da clarividência, clariaudiência, telepatia, o “desdobramento astral” e demais sentidos íntimos que aqui não podemos enumerar. Portanto, o único procedimento para se conseguir poderes é o da morte mística. Por isso, disseram-nos: “Se o gérmen não morre, a planta não nasce…”.
Quando morremos em nós mesmos, e esse “querido ego” que levamos interiormente é pulverizado, os poderes afloram, porque surge a Essência livre com inúmeras faculdades, de preciosos sentidos e capacidades formidáveis.
Existem também muitas instituições que ensinam como se desenvolver os chacras para se conseguir poderes mágicos; algumas delas ensinam práticas que poderíamos classificar de “tenebrosas”. Certamente podemos afirmar, meus queridos irmãos que, se nos preocupássemos somente em desenvolver poderes e não aniquilássemos o “mim mesmo”, o “si mesmo”, o eu da Psicologia, a única coisa que poderia acontecer seria nos convertermos em magos negros.
As Sagradas Escrituras falam claramente disso quando mencionam: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua Justiça, que tudo o mais vos será dado por acréscimo”. Observem como uma criança recém-nascida é bela; isso porque a única coisa que se expressa nela é a Essência (porém, e repito, estou falando de um recém-nascido). Os que pensam que uma criança recém-nascida se encontra inconsciente, adormecida, estão profundamente equivocados.
Ela vê cada um de vocês com piedade, está mais desperta. Se vocês creem que um recém-nascido não se dá conta da vida de vocês, estão perfeitamente equivocados; não só se dá conta do modo como vocês vivem, como também, e o que é pior e mais lamentável, percebem as trevas que vocês carregam internamente.
Não quero dizer que cem por cento da Essência se expresse em uma criança recém-nascida, não. Em um recém-nascido que retornou à existência (ou seja, que se reincorporou em um organismo humano), atua somente uma fração mínima da Essência. Não obstante, essa fração está livre e desperta, autoconsciente.
É pena que a totalidade da Essência não possa se expressar. Praticamente, exprime-se dela só uns três por cento, em uma criança recém-nascida, contudo esse percentual está livre, desperto e consciente. Por isso, a criança tem muitos sentidos íntimos em plena atividade.
Claramente, à medida que o tempo passa, tudo vai mudando: aquela criança, devido especialmente à influência dos mais velhos, vai “adormecendo”; a criança começa a imitar os gestos dos adultos, suas emoções inferiores, até ficar também “adormecida”, fazendo o mesmo que os adultos.
Como o Eu é múltiplo, qualquer iluminado que se proponha a observar uma criança recém-nascida poderá ver o seguinte: a criança em seu berço desperta uma fração mínima da Essência, parte essa que está completamente desperta e autoconsciente. Por isso, a criança vê ao redor do berço “criaturas” que tentam manifestar distintos egos, algumas com belas formas, outras com formas horripilantes indo e vindo, entrando e saindo do quarto, dando voltas por sobre o berço. São os eus que querem se manifestar.
Dentro desses eus estão divididas as outras partes da Essência, isto é, os noventa e sete por cento da Essência que estão embutidos em cada um desses elementos. (Em um determinado Eu está embutida determinada quantidade de Essência, em outro Eu, outra quantidade). Esses múltiplos Eus dão voltas ao redor do berço querem manifestar-se, expressar-se, introduzir-se no corpinho da criança, mas não podem ainda.
Na medida em que a nova personalidade infantil vai se formando, através do exemplo dos mais velhos, do meio e da escola, os Eus vão tendo, também, oportunidade para se expressar, depois que a fontanela frontal dos recém-nascidos se fecha, vocês podem observar perfeitamente nas crianças que o osso parietal superior, a fontanela frontal chamada de moleirinha, está ligeiramente aberto).
Enquanto estiver aberto, tudo corre bem, porém, à medida que a fontanela frontal vai se fechando, a personalidade também vai se desenvolvendo, permitindo que os Eus comecem a intervir cada vez mais. Então, começamos a ver, nas crianças, certas manifestações de ira (especialmente entre três e quatro anos de idade), tornando-as irascíveis. Pouco a pouco, todos os Eus vão tendo oportunidade para se manifestar definitivamente. É muito interessante observarmos as crianças recém-nascidas…
Que bom seria se a Essência não estivesse engarrafada, embutida em todos os Eus; que bom seria se a criança crescesse sem que nenhum Eu se introduzisse nela e que toda a sua Essência atuasse durante a vida inteira. Com isso, todos os cincos cilindros da máquina: intelectual, emocional, motor, instintivo e sexual estariam sob o controle da Essência, atuando em harmonia com o infinito.
Lamentavelmente os noventa e sete por cento da Essência estão engarrafados entre os diversos “elementos inumanos” que constituem o ego, o eu. Por isso, necessitamos desenvolver a Essência. Precisamos desengarrafá-la, desenfrascá-la, para lograrmos os múltiplos poderes naturais e divinos que se expressarão com toda beleza e poder.
Não necessitamos de nos “esforçar” para conseguir poderes, devemos nos dedicar a morrer em nós mesmos, aqui e agora, porque somente com a morte advém o novo. Observem a vida dos grandes cristãos: não se preocupavam em conseguir poderes, só se ocupavam com a santidade, em eliminar cada um de seus defeitos psicológicos, morrer em si mesmos e, à medida que o faziam, manifestavam-se múltiplas faculdades supranormais.
Foram conhecidos sempre como santos, tanto oriundos do Oriente como do Ocidente. Por isso, a santidade é o aspecto mais importante, meus queridos irmãos. Aqui, termina a minha exposição. Se alguém tem alguma pergunta, pode fazê-la com a mais inteira liberdade.
Discípulo: Mestre, você nos explicou o processo pelo qual deve passar o conhecimento, a fim de que se torne consciente. Pergunto se a natureza da Verdade é de caráter emocional ou instintivo?
Mestre: A Verdade é algo que não se pode definir, porque quando assim o fazemos a desfiguramos. Por outro lado, podemos dizer que os passos para que o conhecimento se torne consciente são delineados da seguinte forma: primeiro, estuda-se para que o conhecimento fique depositado na memória; segundo, medita-se com a intenção de capturar o profundo significado do que foi depositado na memória e quando isso acontece (mediante a meditação) o conhecimento passa à parte emocional do centro intelectual. Aqui cabe explicar que o centro intelectual se divide em três partes: a parte intelectual superior, a parte emocional e a parte motora.
Diremos que o conhecimento passa à parte emocional do centro intelectual quando começamos a sentir aquele “sabor” do que foi depositado na memória. Em um estado mais avançado da meditação, tal conhecimento abandona, definitivamente, o centro intelectual, para ficar depositado no centro emocional. Posteriormente, também mediante a técnica da meditação, fazemos com que, finalmente, o conhecimento passe do centro emocional à Essência. Nessa, definitivamente, o conhecimento, ou seja, as Verdades levadas à Essência, tem um sabor mais emocional (e aqui falo não de emoções inferiores, mas de emoções superiores). A emoção superior permite a qualquer Verdade passar à Essência, ficando aí depositada.
O frio intelecto analítico de um Aristóteles, por exemplo, é completamente manco e não permitiria, nunca, que o conhecimento se tornasse consciente, ficaria depositado na memória e isso é tudo. Por isso é que entre os sistemas aristotélicos (que são meros raciocínios frios) e os sistemas platônicos ou pórfiro (de Pórfiro), prefiro os de Platão. Os métodos neoplatônicos e das Escolas de Jâmblico e Pórfiro são emocionais e nos permitem levar o conhecimento à Consciência, tornando-os conscientes, coisa que não se obteria com o frio raciocínio aristotélico e isso é tudo. Há alguma outra pergunta?
Discípulo: Venerável Mestre, de que maneira poderíamos conseguir fazer com que a criança, à medida que sua nova personalidade vai se formando, não se deixe aprisionar pelos eus?
Mestre: Pois a Verdade é o que é (VERBUM EST CODEX)… Obviamente, em uma criança recém-nascida se expressa uma fração mínima de sua Essência, por isso ela é formosa e sublime. Infelizmente, e isso é o pior, cedo ou tarde (sobretudo depois que se fecha a fontanela frontal dos recém-nascidos), os eus começam a se manifestar, introduzindo-se no seu corpinho, porque não foram dissolvidos. Se pudéssemos orientar as crianças desde a infância, deveríamos ensinar-lhes o caminho da Gnosis, mostrar-lhes o que são seus eus.
Não obstante, isso já seria um capítulo à parte, uma questão para abordarmos em outra conferência, porque seria muito longo falar sobre a educação das crianças. Unicamente limito-me a dizer que, enquanto existam eus, estes terão que se manifestar. O desejável é que nós desintegremos os eus para que a Essência fique livre. Neste caso, ao retornarmos e nos reincorporarmos em um novo “veículo”, retornaríamos completamente despertos e seguiríamos com firmeza pela Senda do Fio da Navalha, seríamos diferentes.
Infelizmente, ao nos reincorporarmos cedo ou tarde, os eus começam a se manifestar penetrando no corpo, acabando com essa beleza própria dos recém-nascidos. Por isso é que o Cristo disse: “Enquanto não sejais como crianças, não podereis entrar no Reino dos Céus…”. Necessitamos reconquistar a inocência na mente e no coração. Muitos creem que a inocência torna o indivíduo mais débil, mais tolo, e que qualquer um pode explorá-lo miseravelmente, que todo o mundo faz dele o que quer. Todavia, é um conceito falso emitido pelo Ego que se crê forte, onipotente, poderoso; realmente, não é assim.
A verdade é que quando alguém desintegra o Ego, surge a inocência, mas com sabedoria, porque a desintegração de cada elemento nos dá sapiência… Reflitam bem sobre o que é o processo da ira. Quantas são as situações que provocam a ira? Múltiplas, não é correto? Pode ocorrer ira por um ataque de ciúmes, porque nos sentimos enganados, por causa de alguém que nos feriu o amor-próprio.
Bem, detalhada como surgiu, como se processou, é muito interessante. Quando dissolvemos algum ego, como por exemplo o Eu da ira, é porque o compreendemos previamente e, com isso, adquirimos uma sabedoria formidável. Se vocês querem o “pão da sabedoria”, têm que ir compreendendo cada um dos “elementos indesejáveis” que vão desintegrar e, com isso, adquirirão sapiência. Em resumo, quando vocês desintegram o Ego totalmente, libertam as suas Essências, tornam-se inocente com essa sabedoria e sapiência que o protege, permitindo-lhes conhecer não somente o bom e o mau, mas também distinguir o mau do bom e o bom do mau.
Discípulo: Mestre, é correto afirmar que, à medida que vamos dissolvendo os Egos, estes vão se tornando cada vez menores, deixando suas formas horrendas e se embelezando? Podemos dizer assim?
Mestre: Sim, é correto! Os Eus têm formas variadas. Há eus monstruosos que parecem verdadeiras bestas horripilantes e qualquer clarividente que os observe, fica horrorizado. Vocês já observaram que as crianças recém-nascidas costumam assustar-se de repente, dando gritos sem motivo algum? Isso se deve ao fato de que eles veem alguns de seus próprios eus dando voltas ao redor do berço, causando-lhes pavor.
Se isso acontece com os recém-nascidos, o que diremos das pessoas que vivem no Abismo? Veem frente a frente seus próprios eus…espantos e horrores indescritíveis. Contudo, conforme alguém aqui no mundo físico vai dissolvendo os eus, estes vão diminuindo. Suponhamos que queiramos dissolver um Eu da inveja. No princípio, será um monstro horrendo, mas à medida que trabalhamos, o Eu vai perdendo volume, ficando cada vez menor e mais belo e, por último, toma a forma de uma criança até que se desintegra e se converte em poeira cósmica.
Até aqui se cumpre o que disse o Cristo: “Enquanto não sejais como crianças, não entrareis no Reino dos Céus…”. Por isso, necessitamos desintegrar todos os Eus para que a Essência fique livre e se expresse em nós com toda a sua beleza, naturalidade e espontaneidade… Já disse que temos mais sentidos internos que externos e que devemos começar a utilizá-los.
Precisamos desenvolver esse sentido da observação de nós mesmos. À medida que usamos o sentido de auto-observação, outros sentidos internos, esses também irão se desenvolvendo, isso é óbvio. Assim, queridos irmãos, necessitamos trabalhar intensamente sobre nós mesmos. Algum outro irmão deseja perguntar?
Discípulo: Venerável Mestre, você nos dizia que algumas pessoas estabeleceram em si mesmas um centro de gravidade permanente, e que suas Essências permanecem imutáveis, não foram deterioradas ou alteradas. Isso se refere aos Mestres caídos, aos Bodhisattvas?
Mestre: Bem, sobre o centro de gravidade permanente, toda pessoa que em vidas anteriores esteve neste tipo de estudos e trabalhou sobre si mesma, o possui. Pessoas assim criaram seus centros de gravidade, uns mais fortes, outros mais fracos. Quando alguém tem um centro de gravidade específico é porque trabalhou em vidas anteriores. Inquestionavelmente, ao retornar ao mundo aparecem todos os elementos de que ele necessita para avançar: livros, instrutores, enfim, tudo chega a ele.
Discípulo: Mestre, todos nós que lidamos com crianças pequenas sabemos muito bem que, em algumas ocasiões, aparecem nelas certas expressões de desgosto, isso que chamamos de birra. Poderíamos considerar tais manifestações como expressões do Eu pluralizado ou de algum Eu específico?
Mestre: Sim, isto é real. Esses eus já se expressam com liberdade e, à medida que a criança vai crescendo, as oportunidades para a expressão dos diversos Eus serão cada vez maiores, até que, no final, expressam-se definitivamente na pessoa todo o “eu pluralizado”, que a torna feia, horrorosa. Se através de nós se expressasse unicamente a Essência, desfrutaríamos da beleza de Deus através da qual emana, por sua vez, isso que se chama amor.
Por que há tantas confusões no mundo e os humanoides não se entendem uns com os outros? Vou expor-lhes um caso concreto: uma dama resolve, de imediato, atender a um cavalheiro que lhe pareceu agradável e simpático. A dama o fez desinteressadamente sem que, digamos, tivesse nenhum pensamento de luxúria, porque não estava enamorada dele. Unicamente parece-lhe uma boa pessoa e ocupa-se em atendê-lo nestas ou naquelas tarefas. Todavia, o que acontece? O cavalheiro possui elementos inumanos que controlam os cinco “cilindros da sua máquina orgânica”. Com isso o ego interpreta como lhe apraz.
Nessa situação, as boas maneiras da dama, em vez de passarem ao centro emocional, passam para o centro instintivo-sexual, surgindo no cavalheiro o Eu da luxúria. É claro que a mente, controlada pelo sexo, como frequentemente acontece, faz com que o cavalheiro pense: “Aquela dama está apaixonada por mim, possivelmente agrado-lhe…” Depois ele começa a dirigir-lhe propostas sexuais e a dama se surpreende dizendo para si mesma: “Impossível, pois eu só o estava atendendo e ele interpretou mal minha atitude, as minhas boas maneiras”…Sim, realmente interpretou mal e por quê?
Porque tem o ego que controla os cinco “cilindros da máquina”. Se aquele cavalheiro não tivesse ego, se fosse unicamente a Essência que controlasse os cinco “centros da máquina”, as atenções daquela dama passariam ao centro emocional e se expressariam com alegria pura e beleza real; não haveria, pois, má interpretação. Esse exemplo que expus pode estender-se em muitos outros sentidos. Dizemos alguma coisa e a outra pessoa interpreta mal. E por que interpreta mal?
Porque não entende com o centro correspondente, senão com um centro que não lhe corresponde. Emitimos um conceito intelectual e pode ser que o centro emocional (não o superior, mas o inferior) o receba e o interprete mal, pense que está ferindo o seu amor-próprio, achando que foi lançada uma ironia, de tal maneira que reage contrariamente. Conclusão: não nos entendemos uns com os outros. E por quê?
Por causa do ego que é uma Torre de Babel. Nós, os humanoides, não poderemos nos entender sobre a face da Terra enquanto tivermos o ego. Haverá guerras e rumores de guerra, greves, violência, ódio… enquanto não dissolvermos o ego.
O ego nos tornou horripilantes, não desfrutamos da verdadeira beleza, somos espantosamente feios… Seria bom se vocês vissem quão belas são as Essências livres do ego! Um exemplo é o de alguém que se enche de êxtase quando penetra em um jardim e, com suas faculdades superiores, vê os elementais inocentes das flores desprovidos de ego.
Os elementais das árvores são vistos como crianças, cheias de beleza, desprovidas de ego. (Sem ego, não há problemas entre eles, pois vivem em um verdadeiro Paraíso Elemental da natureza, desfrutando de preciosas faculdades da Essência livre). Dessa maneira, irmãos, enquanto estiverem assim (cheios de egos), será impossível gozarem da felicidade verdadeira.
No entanto, no dia em que vocês conquistarem a inocência e morrerem em si mesmos, conversarão e conviverão maravilhosamente com as crianças inocentes de toda esta Criação nos Paraísos Elementais. Entretanto, com o ego, não! Assim como estão, cheios de Eus, os príncipes do fogo, do ar, das águas e da terra lhes fecharão as portas. Os Eus são monstros horríveis!
Quando estou em meditação e, de repente, alguém vem visitar-me, recebo as vibrações horripilantes e sinistras do visitante, porque percebo seus eus; percebo a sua presença e vejo que possuem elementos inumanos. Com quem poderíamos comparar alguém que tem ego?
Não com Frankenstein, porque é uma ficção sem nenhum valor científico… então, com quem? Com o conde Drácula! É esse tipo de vibrações que carrega qualquer pessoa que tem ego. Agora vocês compreenderão por que as criaturas elementais da natureza horrorizam-se quando veem alguém que possui ego, fogem apavoradas… compreenderam-me?
Bom, aqui, meus caros irmãos, termina esta conferência.
Samael Aun Weor