A-07 & 08. O Fenômeno do Sonho

O FENÔMENO E A YOGA DO SONHO

Extratos do Trabalho de

Samael Aun Weor

A Gnose ensina que existem muitas espécies diferentes de sonhos que a Moderna Psicologia decadente do Hemisfério Ocidental ignora radicalmente.

É evidente que os sonhos são de qualidade diversa e específica devido ao fato concreto de estarem relacionados diretamente com cada um dos Centros Psíquicos do corpo humano.

Com o rigor, de verdade e sem exagero algum podemos afirmar que a maioria dos sonhos se encontra vinculado ao Centro Instintivo-Motor, quer dizer, são o eco de coisas vistas durante o dia, de sensações e movimentos, mera repetição astral daquilo que vivemos diariamente.

Mesmo assim, algumas experiências de tipo emocional, tais como o medo – que tanto dano faz à humanidade – ocorrem nos sonhos caóticos do centro instintivo-motor.

Existem, pois, sonhos emocionais, sexuais, intelectuais, motores e instintivos, etc., etc., etc.

Os sonhos mais importantes, as vivências íntimas do Ser, se encontram associados aos dois centros: o emocional superior e o mental superior.

Certamente, interessantes são os sonhos relacionados com os dois centros superiores; caracterizam-se sempre pelo que se poderia denominar de uma formulação dramática.

Bem, agora se pensarmos no Raio da Criação e nos centros superiores e inferiores, e nas influências que descem pelo citado Raio Cósmico, devemos admitir que elas se apresentam a nós como vibrações luminosas que procuram nos curar, que tratam de nos informar sobre o estado em que nos encontramos etc.

É proveitoso receber Mensagens e estar em contato com os Adeptos astecas, maias, toltecas, egípcios, gregos, etc..

É também maravilhoso conversar intimamente com as diversas partes mais elevadas de nosso Ser.

Os Centros Superiores estão plenamente desenvolvidos em nós e nos transmitem mensagens que devemos aprender a captar conscientemente.

Para aquelas pessoas muito seletas que tiveram momentos de recordação de si mesmas na vida, que tiveram instantes em que viram uma coisa banal ou uma pessoa comum de um modo completamente novo, não constituirá surpresa se eu lhes disser, neste capítulo, que esses momentos têm a mesma qualidade ou sabor íntimo que esses raros e estranhos sonhos relacionados com os dois Centros, Emocional e Mental Superiores.

Não há dúvida que o significado desses sonhos transcendentais pertence à mesma ordem da realização em si do Raio da Criação e, em particular, da Oitava Lateral do Sol.

Quando começamos a nos dar conta da profunda significação dessa classe específica de sonhos, é sinal de que certas forças lutam para nos despertar, nos sanar ou nos curar.

Cada um de nós é um ponto matemático no espaço, que serve de veículo a determinadas adições de “Valores” (brancos ou negros).

A Morte é um resto (é o resultado) de quebrados; terminada a operação matemática, a única coisa que fica são os “Valores” (brancos ou negros).

De acordo com a Lei do Eterno Retorno, é claro que os valores retornam, reincorporam-se.

Se um homem começar a ocupar-se mais conscientemente do pequeno Ciclo de Acontecimentos Recorrentes de sua Vida Pessoal, poderá então verificar por si mesmo, mediante a experiência Mística direta, que no sonho diário sempre se repete a mesma operação matemática da morte.

Na ausência do Corpo Físico, durante o sonho normal, os “Valores” submersos na Luz Astral atraem-se e repelem-se de acordo com as Leis da atração universal.

A volta ao estado de vigília implica, de fato e por direito próprio, o retorno dos valores ao interior do Corpo Físico.

Uma das coisas mais extraordinárias é que as pessoas pensam que se relacionam somente com o mundo externo.

A Gnose nos ensina que estamos em relação com o mundo interior, invisível para os sentidos físicos comuns, mas visível para a clarividência.

O Mundo Interior Invisível é muito mais extenso e contém muito mais coisas interessantes que o Mundo Exterior, para o qual estamos sempre olhando através das janelas dos cinco sentidos.

Muitos sonhos referem-se ao lugar onde estamos no Mundo Interior Invisível, de onde surgem as diversas circunstâncias da vida.

A linguagem dos sonhos é exatamente comparável à linguagem das parábolas. Aqueles que interpretam tudo literalmente pensam que o Semeador do Evangelho cristão saiu a semear e que as sementes caíram em pedregulhos etc., mas não entendem o sentido de tal parábola, porque esse, em si mesmo, pertence à linguagem simbólica do Centro Emocional Superior.

Convém lembrar que todo sonho, por absurdo ou incoerente que seja, tem algum significado, pois nos indica não só o centro psíquico a que está associado, como também o estado Psicológico de tal centro.

Muitos Penitentes que se presumiam castos, quando foram submetidos a provas nos Mundos Internos, falharam no centro sexual e caíram em poluções noturnas.

No Adepto Perfeito, os Cinco Centros Psíquicos: Intelectual, Emocional, Motor, instintivo e Sexual, funcionam em plena harmonia com o infinito.

Quais são os funcionalismos mentais durante o sonho? Que emoções nos agitam e nos comovem? Quais são as nossas atividades fora do Corpo Físico? Que sensações instintivas predominam? Temos tomado nota dos estados sexuais durante o sonho?

Devemos ser sinceros conosco mesmo. Com justa razão, disse Platão: “Conhece-se o homem pelos seus sonhos”.

A questão do funcionamento equivocado dos Centros é um tema que requer um estudo de toda a vida, através da observação de si mesmo em ação e do exame rigoroso dos sonhos.

Não é possível chegar à compreensão dos Centros e de seu trabalho correto e equivocado em um instante; necessitamos de infinita paciência…

Toda a vida se desenvolve em função dos Centros e por estes é controlada. Nossos pensamentos, sentimentos, ideias, esperanças, temores, amores, ódios, ações, sensações, prazeres, satisfações, frustrações etc., encontram-se nos Centros.

A descoberta de algum elemento inumano em qualquer dos centros deve ser motivo mais do que suficiente para o trabalho esotérico.

Todo defeito psicológico deve ser previamente compreendido mediante a técnica da meditação, antes de proceder à sua eliminação.

Extirpar, erradicar, eliminar qualquer elemento indesejável somente é possível com a invocação da ajuda de Tonantzin (a Divina Mãe Kundalini), uma variante de nosso próprio Ser, o Fohat particular de cada um de nós.

Assim é que vamos morrendo de instante a instante; só com a morte advém o novo…

Na escala dos seres e coisas chegam-nos, sem dúvida, influências de toda classe.

Se compreendemos o Raio da Criação, sabemos também que em todo instante da vida nos chegam influências e que estas são de diferentes qualidades.

É preciso lembrar sempre que há influências superiores que atuam sobre nós e que são registradas por nosso aparelho psíquico, mas se estivermos apegados a nossos sentidos e não dermos plena atenção à nossa vida interior, então tampouco conseguiremos perceber essas influências.

Doutrina Secreta de Anahuac
Capítulo XVI – Sobre os Sonhos

 

Aqueles aspirantes que sinceramente anelam a experiência mística direta devem certamente começar pela disciplina da Yoga do sonho.

É claro que o Gnóstico deve ser exigente consigo mesmo e aprender a criar condições favoráveis para a lembrança e compreensão de todas essas experiências místicas que acontecem sempre durante o sonho.

Antes de nos deitarmos para o descanso dos esforços e fadigas do viver diário, convém dar a devida atenção ao estado em que nos encontramos.

Os devotos que, devido às circunstâncias, levam vida sedentária, realmente nada perdem e muito ganharão se antes de se deitarem derem um breve passeio a passos rápidos e no ar fresco; tal passei relaxará seus músculos.

Entretanto, convém esclarecer que jamais devemos abusar dos exercícios físicos; precisamos viver harmoniosamente.

A ceia, o jantar, o lanche ou a refeição final do dia deve ser leve, sem alimentos pesados ou estimulantes, evitando-se, cuidadosamente, a ingestão de comidas que possam nos tirar o sono.

A forma mais elevada de pensar é não pensar; quando a mente está tranquila e em silêncio, livre das preocupações do dia e das ansiedades mundanas, encontra-se então em um estado cem por cento favorável para a prática da Yoga do sonho.

Quando o centro emocional superior realmente trabalha, acaba, ainda que só por breve tempo, o processo de pensar.

É evidente que o referido centro entra em atividade com a embriaguez dionisíaca.

Tal arrebatamento é possível ao se escutar com infinita devoção as deliciosas sinfonias de Wagner, Mozart, Chopin etc.

A música de Beethoven, muito especialmente, é extraordinária para fazer vibrar intensamente o Centro Emocional Superior.

O Gnóstico sincero nela encontra um imenso campo de exploração mística, porque não é música de formas, mas ideias arquetípicas inefáveis; cada nota tem seu significado; cada silêncio, uma emoção superior.

Beethoven, ao sentir tão cruelmente os rigores e provas da “Noite Espiritual”, em vez de fracassar como muitos aspirantes, foi abrindo os olhos de sua intuição ao super naturalismo misterioso, à parte espiritual da Natureza, a essa região onde vivem os Reis Angélicos desta grande Criação Universal: Tlaloc, Huehueteotl e etc., etc.

Vede o “músico-filósofo” ao longo de sua existência exemplar. Sobre sua mesa de trabalho tem constantemente à vista sua Divina Mãe Kundalini, a inefável NEITH, a TONANTZIN de ANAHUAC, a suprema Ísis egípcia.

Disseram-nos que esse Grande Mestre havia colocado aos pés daquela imagem adorável uma inscrição redigida pelo próprio punho, e que reza misteriosa:

“Eu Sou a que foi, é e será, e nenhum mortal levantou meu véu”.

O progresso íntimo revolucionário torna-se impossível sem o auxílio imediato de nossa Divina Mãe Tonantzin.

Todo filho agradecido deve amar sua Mãe; Beethoven amava a sua profundamente.

Fora do Corpo Físico, nas horas de sonho, a alma pode conversar com sua Divina Mãe; mas é evidente que devemos começar com a disciplina do Sonho.

Necessitamos prestar atenção no quarto onde vamos dormir; a decoração deve ser agradável; as cores mais desejáveis para os fins que se perseguem – a despeito do que outros autores aconselham – são precisamente as três tonalidades primárias: azul, amarelo, vermelho.

Sem dúvida, as três cores primárias correspondem sempre às três Forças Primárias da Natureza (o Santo TRIAMATZIKAMNO), isto é, o Santo afirmar, o Santo negar e o Santo conciliar.

É bom lembrar que as três formas originais desta Grande Criação se cristalizam sempre de forma positiva, negativa e neutra.

A “causa causorum” do Santo TRIAMATZIKAMNO encontra-se oculta no elemento ativo OKIDANOCK; este último, em si mesmo, é tão somente a emanação do Sagrado Absoluto Solar.

É óbvio que a repulsa às três cores fundamentais, depois da exposição de todas essas razões, equivale, por simples dedução lógica, a cair em um despropósito, em um desatino.

A Yoga do Sonho é extraordinária, maravilhosa, formidável; todavia, é muito exigente.

O quarto deve estar sempre bem perfumado e arejado, mas não se deve deixar nele penetrar o sereno frio da noite.

O Gnóstico, depois de uma revisão detalhada de si mesmo e do quarto em que irá dormir, deve examinar sua cama.

Se observamos qualquer bússola, podemos verificar por nós mesmos que a agulha aponta para o Norte.

Sem dúvida, podemos aproveitar conscientemente essa corrente magnética do mundo, que flui sempre de Sul a Norte.

Orientemos a cama de forma tal que a cabeceira fique sempre voltada para o Norte; assim, poderemos usar inteligentemente a corrente magnética indicada pela agulha.

O colchão não deve ser nem muito duro nem muito mole; quer dizer, deve ter uma flexibilidade tal que não afete de modo algum os processos psíquicos de quem dorme.

Os chiados das molas ou uma cabeceira que range ao menor movimento do corpo constituem um sério obstáculo para essas práticas.

Coloca-se sob o travesseiro um caderno ou um bloco de anotações e um lápis para que possam ser facilmente encontrados no escuro.

As roupas de cama devem ser frescas e muito limpas, e deve-se perfumar a fronha com a fragrância preferida.

Depois de cumprir todos esses requisitos, o asceta Gnóstico dará o segundo passo desta disciplina esotérica.

Ele se deitará, e tendo apagado a luz, pôr-se-á em decúbito dorsal (de barriga para cima), com os olhos fechados e as mãos sobre o plexo solar.

Ficará completamente quieto durante alguns instantes e, depois de estar relaxado totalmente, tanto no físico como no mental, se concentrará em Morfeu, o Deus dos Sonhos.

E inquestionável que cada uma das partes isoladas do nosso Ser Real exerce determinadas funções, e é justamente Morfeu (não confunda com Orfeu) o encarregado de nos educar nos mistérios do sonho.

Seria algo mais do que impossível traçar um esquema do Ser; mas, todas as partes espiritualizadas, isoladas, de nossa presença comum, desejam a perfeição absoluta de suas funções.

Quando nos concentramos em Morfeu, este se regozija pela excelente oportunidade que lhe oferecemos.

É indispensável ter Fé e saber suplicar; devemos pedir a Morfeu que nos instrua e nos desperte nos Mundos Suprassensíveis.

Neste momento, começa a apoderar-se do Gnóstico esoterista uma sonolência bastante especial, e ele então adota a postura do leão:

“Deitado sobre seu lado direito, com a cabeça dirigida para o Norte, puxa as pernas para cima lentamente até que os joelhos fiquem dobrados. Nessa posição, a perna esquerda apoia-se sobre a direita; a seguir, coloca a face direita sobre a palma da mão direita e deixa o braço esquerdo descansar sobre a perna do mesmo lado”.

Quando despertamos do sono normal, não devemos nos mexer, porque, com tal movimento, é claro que nossos “Valores” se agitam e perdem-se as lembranças.

Sem dúvida, o exercício retrospectivo torna-se necessário nesses instantes, quando desejamos recordar com total precisão todos e cada um de nossos sonhos.

O Gnóstico deve anotar metodicamente os detalhes do sonho ou sonhos no caderno ou no bloco colocado sob o travesseiro para este fim.

Assim poderá ter um registro minucioso sobre seu progresso interno na yoga do Sonho.

Ainda que restem na memória vagos fragmentos do sonho ou sonhos, estes devem ser cuidadosamente registrados.

Quando nada permaneceu na memória, devemos iniciar o exercício de Retrospecção com base no primeiro pensamento que tivemos no instante exato em que acordamos. Precisamos esclarecer de maneira enfática que o Exercício de Retrospecção inicia antes de retomarmos completamente o estado de vigília, quando ainda nos encontramos no estado de sonolência, tratando de seguir conscientemente a sequência do sonho.

Terminamos este capítulo afirmando solenemente que não é possível ir além desta parte relacionada com a disciplina da Yoga do sonho, a menos que tenhamos conseguido a memória perfeita de nossas experiências oníricas.

Doutrina Secreta de Anahuac
Capitulo XVII – Disciplina da Yoga do Sonho

 

É imprescindível, não há dúvida, que precisamos examinar mensalmente nosso caderno ou bloco de anotações, com o objetivo de verificarmos, por nós mesmos, o avanço progressivo da memória onírica.

Qualquer possibilidade de esquecimento deve ser eliminada; não devemos continuar com as práticas subsequentes enquanto não obtivermos a memória perfeita.

São particularmente interessantes aqueles dramas que parecem sair de outros séculos, ou que se desenrolam em meios ou ambientes que nada têm a ver com a existência vigília do sonhador.

É preciso estar em estado de alerta percepção, de alerta novidade, e dar atenção bastante especial ao estudo dos detalhes que incluem questões específicas, práticas, reuniões, templos, atividades inusitadas em relação a outras pessoas, etc., etc., etc..

Conseguido o desenvolvimento completo da memória onírica, eliminada já qualquer possibilidade de esquecimento, o processo de simbolização abrirá o caminho da revelação.

Devemos buscar a ciência básica da interpretação dos sonhos na lei das analogias filosóficas, na lei das analogias, dos contrários, na lei das correspondências e da numerologia.

As imagens astrais refletidas no espelho mágico da imaginação jamais devem ser interpretadas literalmente, pois são apenas representações simbólicas das ideias arquetípicas, devendo ser utilizadas da mesma maneira que o matemático usa os símbolos algébricos.

Cumpre afirmar que esse gênero de ideias descende do Mundo do Espírito Puro.

Obviamente, as ideias arquetípicas que provêm do Ser tornam-se maravilhosas, informando-nos sobre o Estado psicológico desse ou daquele Centro da Máquina, sobre assuntos esotéricos muito íntimos, sobre possíveis êxitos ou perigos etc., sempre cobertas pelo traje do simbolismo.

Descobrir tal ou qual símbolo astral, cena ou figura, com o propósito de extrair a ideia essencial, somente é possível através “confrontação da meditação lógica do Ser”.

Ao chegarmos a esta etapa da disciplina da yoga do sonho, torna-se indispensável entrarmos no aspecto Tântrico da questão.

A Sabedoria Antiga ensina que Tonantzin (Devi Kundalini), nossa Divina Mãe Cósmica particular (pois cada pessoa tem a sua), pode adotar qualquer forma, pois é a origem de todas as formas; portanto, convém que o Gnóstico medite sobre ela antes de adormecer.

O aspirante deverá entrar diariamente no processo do sono repetindo, com muita fé, a seguinte oração: “TONANTZIN, TETEOINAN, ó Minha Mãe, vinde a mim, vinde a mim.”

Segundo a Ciência Tântrica, se o Gnóstico insistir nesta prática, mais cedo ou mais tarde surgirá, como por encanto, dentre as expressões cambiantes e amorfas de seus sonhos, um Elemento Iniciador.

Enquanto não for completamente identificado esse Iniciador, é indispensável continuar registrando seus sonhos no caderno ou bloco.

O estudo e a análise profunda de cada sonho anotado é impostergável na disciplina esotérica do sonho Tântrico.

É evidente que o processo didático haverá de nos conduzir à descoberta do Iniciador ou elemento unificador do sonho. O Gnóstico sincero que chega a esse estágio da Disciplina Tântrica encontra-se, justamente por este motivo, pronto para dar o passo seguinte, que será o tema do nosso próximo capítulo.

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Capitulo XVIII – O Sonho Tântrico

 

Quando o aspirante realizou com pleno êxito todos os exercícios gnósticos relacionados com o esoterismo do sonho, é claro que se encontra intimamente preparado para a prática do retorno.

No capítulo anterior dissemos algo sobre o Elemento Iniciador que surge como por encanto dentre as cambiantes e amorfas expressões de seus sonhos.

Certas pessoas, muito psíquicas, sensíveis e impressionáveis, possuíram sempre em si mesmas o elemento iniciador.

Tais pessoas caracterizam-se pela repetição contínua de um mesmo sonho; revivem periodicamente essa ou aquela cena, ou veem constantemente em suas experiências oníricas essa ou aquela criatura ou símbolo.

Toda vez que o Elemento Iniciador – símbolo, som, cor, pessoa etc. – é lembrado no despertar do sono normal, o aspirante, ainda com os olhos fechados, continua vendo a imagem-chave familiar e imediatamente, de maneira intencional, tratará de dormir de novo, prosseguindo com o mesmo sonho.

Diremos, em outras palavras, que o aspirante propõe a voltar consciente a seu próprio sonho e, por isso, continua intencionalmente com o mesmo, mas trazendo-o para o estado de vigília, com plena lucidez e autocontrole.

Converte-se assim em espectador e ator do sonho, com a vantagem, por certo nada desprezível, de poder abandonar a cena à vontade, a fim de mover-se livremente no mundo astral.

Então, o aspirante, liberto então de todas as travas da carne, fora de seu corpo físico, acha-se desprendido do seu velho e familiar ambiente penetrando em um universo regido por leis diferentes.

A disciplina do estado de sonho dos tântricos budistas conduz didaticamente ao despertar da consciência.

O gnóstico só poderá despertar o estado verdadeiro de iluminação, compreendendo e desintegrando os sonhos.

As Sagradas Escrituras do Indostão afirmam de maneira formal que o Mundo inteiro é o Sonho de Brahma.

A partir desse postulado hindu, afirmaremos categoricamente o seguinte: “Quando Brahma desperta, o Sonho acaba…”

Mas, enquanto o aspirante não conseguir a dissolução radical, não só dos sonhos em si mesmos, como também dos motivos psicológicos que os provocam, o despertar absoluto será algo mais que impossível.

O despertar definitivo da consciência só é possível mediante uma transformação radical.

Os Quatro Evangelhos cristãos insistem na necessidade do despertar; lamentavelmente, as pessoas continuam adormecidas.

QUETZALCOATL, O CRISTO MEXICANO, foi, certamente, um homem cem por cento desperto.

A multiplicidade de suas funções também nos indica com absoluta precisão a grande antiguidade de seu culto e a profunda veneração que lhe era dedicada em todo o centro da América.

Os Deuses Santos de Anahuac são Homens Perfeitos no sentido mais completo da palavra; criaturas absolutamente despertas; seres que erradicaram de sua Psique toda possibilidade de sonhar.

TLALOC, “o que faz brotar”, Deus das chuvas e do raio, sendo um Deus, também é um homem desperto, alguém que teve de eliminar de sua Psique não só seus sonhos, como também toda possibilidade de sonhar. Ele é a principal Entidade Sagrada da antiquíssima cultura olmeca, e aparece sempre com a máscara do Tigre-Serpente nos machados colossais e nas diversas figuras de jade.

TEXCATLIPOCA E HUITZILOPOCHTLI, criaturas do fogo, vivas representações da noite e do dia, também são homens despertos, seres que conseguiram passar mais além dos sonhos.

Fora do Corpo Físico, o homem desperto pode invocar os Deuses Santos dos astecas, maias, zapotecas, toltecas, etc.

Os Deuses dos códices Bórgia, Borbónico e outros vêm ao chamado do homem desperto. Mediante o auxílio dos Deuses Santos, o homem desperto pode estudar, na Luz Astral, a Doutrina Secreta de ANAHUAC.

Doutrina Secreta de Anahuac
Capitulo XIX – Prática do Retorno

 

No capítulo anterior, falamos bastante sobre o Elemento Iniciador do sonho, e é óbvio que só nos resta agora aprender a usá-lo.

Quando o gnóstico tem um registro de seus sonhos, descobre, sem dúvida, o sonho que se repete sempre. Este, entre outros, é certamente um motivo mais do que suficiente para anotar todos os sonhos no caderno ou no bloco.

A experiência onírica sempre repetida é, inquestionavelmente, o Elemento Iniciador que, utilizado com inteligência, nos conduz ao despertar da consciência.

Cada vez que o Místico, deitado na sua cama, adormece intencionalmente, meditando no Elemento Iniciador, o resultado nunca se faz esperar muito: em geral, o Anacoreta revive conscientemente tal sonho, podendo separar-se da cena à vontade para viajar pelos Mundos suprassensíveis.

Qualquer outro sonho pode também ser usado com esse propósito, quando conhecemos realmente a técnica.

Quem desperta de um sonho, se for de seu desejo, pode intencionalmente prosseguir com ele mesmo; neste caso, deve adormecer outra vez, revivendo sua experiência onírica com a Imaginação.

Não se trata de imaginar que estamos imaginando; o fundamental consiste em reviver o sonho com todo o seu cru realismo anterior.

Repetir intencionalmente o sonho é o primeiro passo em direção ao despertar da consciência; separar-se à vontade do sonho e em pleno drama é o segundo passo.

Alguns aspirantes conseguem dar o primeiro passo, falta-lhes força para dar o segundo passo.

Tais pessoas podem e devem ajudar-se por meio da técnica da meditação.

Tomando decisões muito sérias, esses devotos praticarão a meditação antes de se entregarem ao sono.

Neste caso, seu problema íntimo será o tema evidente de concentração e autorreflexão na meditação interior profunda.

Durante esta prática, o místico angustiado, cheio de emoção sincera, invoca sua Divina Mãe Tonantzin (Devi Kundalini).

Derramando lágrimas de dor, o asceta gnóstico lamenta-se do estado de inconsciência em que se encontra e implora a ajuda rogando à sua Mãe que lhe dê forças interiores para desprender-se de qualquer sonho à vontade.

A finalidade de toda esta disciplina do sonho tântrico é preparar o discípulo para reconhecer claramente as Quatro Bem-Aventuranças que se apresentam na experiência onírica.

Esta disciplina esotérica é tão-somente para pessoas muito sérias, pois exige infinita paciência e enormes superesforços íntimos.

Muito se fala no mundo oriental sobre as Quatro Luzes do Sonho e nós devemos estudar esta questão.

A primeira delas é chamada a Luz da Revelação, e escrito está com letras de ouro no Livro da Vida que ela é percebida justamente antes ou durante as primeiras horas do sonho.

Cumpre dizer formal e diretamente que a indesejável mistura de impressões residuais e a corrente habitual de pensamentos discriminatórios felizmente vão se dissolvendo lentamente à medida que o sonho se torna mais profundo.

Nesse estágio do sonho, insinua-se progressivamente a Segunda Iluminação, a que se conhece na Ásia com o nome maravilhoso de “luz de aumento”.

Evidentemente, o asceta gnóstico, mediante a extraordinária disciplina do sonho Tântrico, consegue passar muito mais além desta etapa até captar ou apreender completamente as duas luzes restantes.

Vivenciar distintamente o realismo cru da vida prática nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica, significa ter atingido a terceira luz, a da “realização imediata”.

A quarta luz é a da “iluminação interior profunda” e nos advém como por encanto em plena experiência mística.

Um tratado tibetano declara: “Aqui no quarto grau do vazio, mora o Filho da clara luz Mãe”.

Falando franca e diretamente, declaro o seguinte: “A disciplina do sonho tântrico é, na realidade, uma preparação esotérica para esse sonho final que é a morte”.

Tendo morrido muitas vezes durante a noite, o gnóstico anacoreta que tenha apreendido conscientemente as quatro Bem-Aventuranças que se apresentam na experiência onírica, no momento da desencarnação passa ao estado “post-mortem” com a mesma facilidade com que entra voluntariamente no Mundo do Sonho.

Fora do Corpo Físico, o Gnóstico Consciente pode verificar, por si mesmo, o destino que está reservado às almas depois da Morte.

Se cada noite, mediante a disciplina Tântrica do sonho, o esoterista pode morrer conscientemente e penetrar no Mundo dos Mortos, é claro que pode também, por este motivo, estudar o ritual da Vida e da Morte enquanto chega o oficiante.

Hermes, depois de ter visitado “Os Mundos Infernos”, onde vira com horror o destino das Almas perdidas, conheceu coisas insólitas.

Disse Osíris a Hermes: “Olhe deste lado. Vês aquele enxame de Almas que buscam elevar-se à Região Lunar? Umas são devolvidas à terra, como torvelinhos de pássaro sob os golpes da tempestade. As outras alcançam a grande Esfera superior, que as arrasta em sua rotação. Uma vez chegadas ali, recobram a visão das coisas Divinas”.

Os astecas colocavam um galho seco quando enterravam os que haviam sido escolhidos por Tlaloc, o Deus da chuva.

Dizia-se que quando o bem-aventurado chegava ao “Campo de Delícias”, que é o Tlalocan, o galho seco se tornava verde, indicando com isso o regresso a uma nova vida, o retorno.

Aqueles que não foram escolhidos pelo Sol ou por Tlaloc vão fatalmente ao Mictlan, situado ao Norte, região onde as Almas sofrem uma série de provas Mágicas ao passarem para os mundos infernos.

São nove os lugares onde as Almas sofrem espantosamente antes de alcançarem o descanso definitivo.

Isto faz-nos lembrar os “nove círculos infernais” da Divina Comédia de Dante Alighieri.

São muitos os Deuses e Deusas que povoam os nove círculos dantescos do Inferno asteca.

Não é demais, nesta Mensagem de Natal 1974-1975, recordar o espantoso MICTLANTECUHTLI e a tenebrosa MICTECACIHUATL, o Senhor e a Senhora do Inferno, habitantes do nono ou mais profundo dos lugares subterrâneos.

As Almas que passam pelas provas do “Inferno Asteca”, depois da Segunda Morte, entram felizes nos paraísos elementais da natureza.

Inquestionavelmente, as almas, que depois da Morte, não descem aos “Mundos Infernos”, tampouco ascendem ao “Reino da Luz Dourada”, nem ao “Paraíso de Tlaloc”, ou ao “Reino da Concentração”, etc. regressam ou retornam de modo mediato ou imediato a um novo Corpo Físico.

As Almas eleitas pelo Sol ou por Tlaloc gozam muito nos Mundos Superiores antes de retornarem ao vale do SAMSARA.

Os anacoretas gnósticos, depois de apreenderem as quatro luzes do sonho, podem visitar conscientemente toda noite o TLALOCAN, ou descerem ao MICTLAN, ou entrarem em contato com as Almas que, antes de retornarem, vivem na Região Lunar.

Doutrina Secreta de Anahuac
Capitulo XX – As Quatro Bem Aventuranças